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Vovô irado
Tatuagens encantam os
jovens de todo o mundo.
O doutor Lofredo tinha dois netos adolescentes.
- Uns cretinos. Essa é
a verdade.
Ele não se conformava.
- Onde já se viu? Tatuados. Como uns meliantes.
Lucas tinha uma serpente que ia da testa
até a base do pescoço.
João Vítor fizera um
Buda em cada bochecha.
-Lamentável. De todos os pontos de vista.
A esposa do doutor
Lofredo se chamava
Evelynne e gostava de
discutir.
- Cada um é de um
jeito, Lofredo. Acho eles
lindos. Tenho até inveja.
Aos 60 anos, Evelynne
abusava da plástica e
do botox.
Veio com a novidade.
-Minha pele. Muito
esticadinha. Vou tatuar.
Coisa discreta.
O inconformismo de
Lofredo traduziu-se em
palavras de baixo calão.
Evelynne reagiu do
seu jeito. Arremessando
um cinzeiro de cristal
tcheco no chão.
Estilhaços voaram pelo living. E atingiram
Lofredo. Nove pontos na
testa.
- Legal, vovô. Melhor
que tatuagem. Radical.
A adolescência tem
suas modas. Mas a
velhice deixa marcas
mais fundas.
voltaire.souza@bol.com.br
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