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A grande recusa

Promessas. Musiquinhas. Sorrisos.
É o horário eleitoral.
Diante da TV, o senhor Gomide não continha a raiva.
- Bandidos. Todos vocês.
Esmagou com força o cigarro no cinzeiro.
- Voto nulo. E pronto.
Seus olhos injetados se cravaram sobre a telinha.
- Ouviram, vocês aí?
Nosso corrupto sistema eleitoral se mantinha indiferente à fúria do senhor Gomide.
- Nulo, pô. Ninguém. Nada. Nunca.
Uma nova dose de conhaque não acalmou a mente daquele patriota.
- Votar? Em vocês? Nunca mais.
A imagem de uma grande recusa tomou conta de sua alma.
- Tudo é uma ilusão.
O som de uma marchinha eleitoral agrediu seus ouvidos.
- Silêncio. Silêncio. Chega. É o basta.
O infarto veio logo depois. Fulminante. Absoluto. Peremptório.
Pode-se anular o voto. Mas na morte está a maior recusa.
 voltaire.souza@bol.com.br


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