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Boinas da
revolução
Negociatas. Lero-lero.
A política brasileira às
vezes desanima. Elpídio
se sentia traído.
-Lutei tanto... pelo
povão... e agora isso.
De sua boca vinha um
riso amargo e um bafo de
cerveja.
-Não acredito mais
nesses caras.
O antigo militante de
esquerda já não queria
saber de política
normal.
-O negócio agora é a
luta armada.
No bar Bonanza, reuniam-se perigosos traficantes. Elpídio chegou
pisando firme.
-Fuzil. Metranca.
Também quero. Estou
pronto para qualquer
serviço.
Junto com os armamentos, ele encomendava doses de caninha.
Foi quando entrou no
bar um homem corpulento. Traços indígenas.
Uma boina vermelha.
Coturnos de campanha.
Falando em fazer justiça.
Lágrimas de alegria
vieram aos olhos injetados de Elpídio.
-Hugo Chávez. Compañero. Bamos luchar
pela revolución.
Não era Chávez. Era o
Cabo Farias. Líder de um
grupo de extermínio.
Antes de conseguir um
autógrafo, Elpídio ganhou três balaços na
barriga.
Na UTI, ele tem orgulho
do lençol. Que parece
uma bandeira vermelha.
Boinas e botas são
sempre iguais. O que
muda é o recheio.
voltaire.souza@bol.com.br
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