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Nada a fazer
Ambulâncias. Vampiros. Sanguessugas. Belmiro acompanhava o
noticiário.
- Não tem jeito. Política é isso mesmo. Nada
a fazer.
O sono tomava conta
do seu organismo cinqüentão. A mulher dele
se chamava Jeanne.
- Que desânimo, Belmiro. Pára com isso.
Ele não se dignou a
responder. A barriga subia e descia. Prenunciando o
sono. Jeanne teve um movimento
de ternura.
- Meu vampirinho.
Dormindo já a esta hora...
Belmiro sorriu. Tocou
de leve no interessante
vestido de seda. Jeanne
se animou.
- Meu sanguessuguinha... chega aqui no
meu pescoço.
As carícias seguiram o
ritmo da campanha
eleitoral. Esquentando
aos poucos. No leito
conjugal, a esperança
deu lugar à frustração.
- Desculpe, Jeanne.
Mas eu voto em branco.
O embaraço. Uma tosse. A falta de ar. Era infarto. Quando a ambulância chegou para buscar Belmiro, já não havia nada a fazer.
A vida de um homem é
como a verba pública:
pode ser roubada a
qualquer momento.
voltaire.souza@bol.com.br
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