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No ponto
O tempo não perdoa.
Djalma tinha sido
campeão de handebol.
- Foi no pré-olímpico de 1967.
Agora, a amargura.
A idade. A cerveja.
Camadas de gordura se acumulavam
sobre o abdômen antes perfeito.
Djalma assistia aos
jogos do Pan.
Vitórias. Medalhas.
Empolgação.
- Isso passa. Depois é que eu quero
ver.
Tomou mais um
gole de cerveja.
A competição era de
saltos ornamentais.
A água azul da piscina aguardava o
mergulho do atleta
brasileiro.
- Pula, desgraçado. Não enrola.
O locutor se entusiasmava.
- Belíssimo salto.
Retinho. Direto no
ponto.
Djalma abriu a janela. A chuva ainda
caía sobre a capital
paulista.
O salto foi do sétimo andar. Djalma
caiu de cabeça.
Bem em cima de
uma poça d' água.
No ponto exato.
Para encontrar a
morte, não é preciso
cronômetro.
voltaire.souza@bol.com.br
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