|
|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A geléia de
jabuticaba
O racismo ainda é muito
presente em nossas elites.
Dona Henriqueta vivia
num lindo palacete no
Morumbi.
Segunda-feira. Oito da
manhã. Dona Henriqueta
dirigiu-se à sala do desjejum.
-Cadê meu café? Minhas torradas? Minha geléia de jabuticaba?
A rica senhora encaminhou-se como uma flecha
ao quarto da empregada.
-Marialva! Marialva! O
que aconteceu com meu
café?
Do quarto, ouviu-se
uma voz pastosa.
-Dia da Consciência Negra, dona Henriqueta... é
feriado...
A indignação tomou
conta da alma daquela
senhora paulista.
-Pouca vergonha.
Inadmissível.
Retirou-se do local com
passo firme. E voltou com
a chave de reserva.
-Abra a porta i-me-dia-ta-men-te. Para que
eu não seja forçada a
abrir.
A bronca da demissão se
formava com capricho na
mente de dona Henri-queta.
Ela inseriu a chave na
fechadura. Abriu a porta.
E teve a surpresa.
-Nicanor! Você? Com a
Marialva?
O marido de dona
Henriqueta vestia-se às
pressas. Houve muita conversa. Mas nenhum divórcio. Marialva é que foi demitida. Sem aviso prévio.
Os tempos mudam. Mas
a torrada continua caindo
no chão do lado errado.
voltaire.souza@bol.com.br
Texto Anterior: Sinceridade ou cara-de-pau? Próximo Texto: É campeão... É campeão Índice
|