|
|
Próximo Texto | Índice
Dualib diz que parceria com
MSI foi imperdoável
FORA DA ADMINISTRAÇÃO DO CLUBE
DESDE O FINAL DO PRIMEIRO TURNO DO
BRASILEIRO, DUALIB FALA SOBRE OS SEUS
ERROS E ACERTOS À FRENTE DO TIMÃO
Alberto Dualib, de 87 anos,
está com medo de sair de casa. Desde que renunciou à
presidência do Corinthians, no
dia 21 de setembro, está recluso. Diz que pode ser agredido pela torcida por ter cometido, segundo ele, "um erro imperdoável" de ter feito a
parceria com a MSI. "Posso ser
agredido", contou.
Ontem, ele aceitou conceder
entrevista à "Folha de S.Paulo", mas só por e-mail. Sobre
o rebaixamento, assumiu parte da culpa. Mas aponta como
maior responsável o presidente interino Clodomil Orsi,
que ficou entre agosto e outubro no cargo.(Eduardo Arruda
e Paulo Galdieri, da FSP)
Por que o Corinthians caiu
para a Série B?
Alberto Dualib - Além do aspecto técnico, ou seja, caiu
porque o time era limitado,
creio que se criou um clima
de derrotismo praticamente
irreversível contra o Corinthians. Tanto se falou na
queda, 24 horas por dia, minuto a minuto, no rádio, na
TV, nos jornais e na internet,
que o time não teve a mínima serenidade nos últimos
dias. Transmitir treino ao vivo pela TV, pelo amor de
Deus! Os jogadores ficaram
com mais responsabilidade
do que se fossem soldados
marchando para uma guerra
que ameaçasse a soberania
nacional. Tenho certeza de
que a camisa estava pesando uns 50 quilos em cada jogador contra o Grêmio.
A crise político-administrativa não teve influência?
Dualib - Claro que sim, seria
ingênuo dizer que não. Mas
o Estatuto foi cumprido, uma
nova eleição realizada e nova diretoria, com plenos poderes, assumiu.
De quem é a culpa?
Dualib - Se você quer que eu
assuma minha parcela de
culpa, tudo bem. Fui presidente até a 17ª rodada de
um total de 38. O Corinthians
tinha então 20 pontos ganhos, ocupava o 15º lugar.
Quando pedi afastamento, o
Corinthians tinha ganho
dois dias atrás do Goiás e
ainda faltavam 31 jogos,
com 63 pontos em disputa.
Veja que irônico, do Goiás!
Foi minha última partida como presidente. Agora, a partir daí cada um tem que assumir a sua parte. Certo ou
errado eu não estava lá para
decidir mais nada.
Qual a sua parcela de responsabilidade nisso?
Dualib - Querem dividir a
culpa pela queda, mesmo eu
não sendo mais presidente,
mesmo tendo sido praticamente escorraçado do clube
faltando três rodadas para o
fim do primeiro turno. Só que
logo que assumiu, o presidente interino Clodomil tomou atitudes profundamente equivocadas. A demissão
de Carpegiani foi uma delas,
a sua substituição por um
técnico das divisões de base,
sem experiência, outra. A escolha de um vice de futebol
há 20 anos afastado dos estádios, mais uma. O bolo de
neve foi se formando. As
pessoas se esquecem, mas
também foram feitas novas
contratações neste período
de interinidade. Foram quatro jogadores que nunca
aprovaram. Disso, não tenho
culpa alguma.
Arrepende-se de ter feito a
parceria?
Dualib - De uma coisa eu tenho certeza. Fiz muitas coisas boas para o Corinthians.
Em patrimônio e no futebol.
Sob minha presidência o Corinthians ganhou tudo, como nunca antes. Mas cometi
um tremendo erro, imperdoável para quem tinha minha experiência de vida: a
parceria com a MSI. Sei que
vão dizer: muitos avisaram e
não ouvi. Mas quando fiz a
parceria, tinha certeza de
que era boa para o clube.
Acontece que a parceria,
aprovada por mais de 300
conselheiros, acabou se
transformando na desgraça
política de apenas um: eu.
Quando quis salvar de qualquer maneira a parceria, me
iludi ainda mais. Até o último instante acreditei que os
recursos chegariam.
O que acha das críticas que o
colocam como principal responsável pela queda?
Dualib - Ficou fácil culpar
Dualib por tudo. Fui obrigado a renunciar, não tenho
espaço para me defender. Se
for a uma reunião do Conselho, corro o risco de ser agredido pela torcida e nem conseguir entrar na sede que
construí e que é um de nossos orgulhos. Mas o Corinthians é forte, vai se reerguer. Quanto a mim, fiquei
sem chão, sem perspectiva
alguma.
O senhor acha que deixou
uma herança maldita?
Dualib - Acho. Uma herança
de R$ 51 milhões em caixa.
(R$ 30 milhões líquidos do
Willian, R$ 3 milhões do
Marcelo Mattos, R$ 18 milhões do Carlos Alberto).
Agora pergunte a Clodomil
Orsi que só foi prestigiado
por mim durante anos e, em
retribuição, só soube me ignorar quando assumiu a
presidência, o que ele fez
com esse dinheiro.
Com a queda, acha que possa ser eliminado do clube?
Dualib - Tenho idade avançada e, pela primeira vez na
minha existência, sinto-me
cansado. Mas ainda tenho
discernimento. A exposição
monstruosa de nossa crise no
futebol, também se aplica na
parte administrativa. Estou
sendo julgado, como muitas
pessoas são. Não fui condenado, mas me tratam como
se tivesse sido. Ninguém se
pergunta: e se a Justiça concluir que o Dualib não formou quadrilha alguma e
não lavou dinheiro? Como é
que ficam os que me execraram, que falaram tudo o que
quiseram a meu respeito?
Tenho ouvido muito de parte
da imprensa: "O Dualib roubou, deixou roubar'. Sou
empresário desde os 23 anos
de idade, gerei ao longo da
vida mais de 50 mil empregos, nunca fui sequer acusado por ninguém criminalmente do que quer que fosse.
Se fosse processar todos os
que me caluniaram, não faria outra coisa nestes últimos
meses. E onde uma única
prova de que desviei dinheiro? Fiz uma parceria com
pessoas erradas, que deixaram dívidas e problemas no
Corinthians. O caso Nilmar é
exemplar. Kia fez tudo sozinho, sem me dar satisfação,
mas na hora agá, lembram
de quem? De Dualib. Por
conta disso, perdi meu cargo
para o qual fui eleito democraticamente. Picham meu
nome nos muros. Mal posso
sair de casa. Mas não sou
bandido, nunca fui. Trabalho desde os 13 anos. Com 87
anos ainda trabalho. Qual o
executivo que você conhece
que trabalha com minha
idade? Porém, a avalanche
que caiu sobre mim pode influenciar, sim, o Conselho,
no quesito eliminação.
O senhor se beneficiou financeiramente do Corinthians?
Dualib - Até meus inimigos
sabem que sempre tive uma
situação financeira mais do
que confortável. Como minhas contas foram abertas, é
fácil conferir. Quando fui
eleito presidente em 1993,
meu patrimônio pessoal e
das empresas beirava os R$
200 milhões. Em 2006, meu
patrimônio era pouco mais
de R$ 30 milhões. E ainda
acham que me locupletei.
O que está achando da administração Sanches?
Dualib - Acho o Andrés bem
intencionado, moço, com vigor. Ele pode reunir uma
equipe nova, construir o futuro do Corinthians. O seu
principal opositor, Paulo
Garcia, é um homem correto,
empresário de sucesso.
Aproximou-se de mim no final de minha gestão, fez
campanha e defendeu a
aprovação de minhas contas. Sou grato a ele.
O que o Corinthians tem que
fazer?
Dualib - Se sou tão criticado,
por que querem minha opinião? Eu sei o que fiz no Corinthians: um Mundial, quatro títulos brasileiros, dois
Rio-São Paulo, cinco paulistas, cinco Copas São Paulo,
duas Copas do Brasil, um Ramon de Carranza. A torcida
que tanto me agride nunca
teve tanta alegria como nos
14 anos de minha administração.
Próximo Texto: Romário é pego no antidoping e poderá ser suspenso por 120 dias Índice
|