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 Felipe promete que vai salvar o Timão

CORINTIANO QUEBRA SILÊNCIO E CONFESSA°QUE°SOFRE°GRANDE PRESSÃO°PELA°MÁ°VONTADE CONTRA°GOLEIROS°NEGROS

O pensamento de Felipe é um só: manter o Corinthians na Série A em 2008. Não quer se afastar desse objetivo por nada e foi esse um dos motivos pelos quais resolveu parar de dar entrevistas. "Meu sonho é jogar muito nessas três últimas partidas para afastar o perigo. Depois, se quiserem eu volto a falar com jornalistas. Agora, quero salvar o Corinthians, junto com meus companheiros", disse ontem ao Agora, rompendo, por minutos, o silêncio.
A pressão sobre Felipe é grande. Por ser goleiro. Por ser negro: "No Brasil, dizem que não existe racismo e parece que não existe mesmo, não é como nos Estados Unidos, que tem muita briga. Mas é muito mais difícil para um goleiro negro fazer sucesso do que um branco. A desconfiança é muito grande em cima de nós, todo mundo sabe".
Ele sentiu na pele, sem trocadilho, o peso do racismo. Em 12 de setembro de 2005, após um empate por 3 a 3 com a Portuguesa, em Salvador, o Vitória caiu para a Série C. O então presidente Paulo Carneiro não demorou para encontrar em Felipe o culpado. O goleiro foi chamado de "negro frouxo e negro vendido" e entrou com um processo contra o presidente. "Pensando bem, não é só o goleiro negro que tem problemas. O cidadão negro tem mais obstáculos para vencer em qualquer trabalho."
Depois do Vitória, Felipe andou por São Caetano, Bragantino, Portuguesa e novamente Bragantino. Fez um grande Paulistão e veio para o Corinthians. É ídolo da torcida, mas deseja mais. "Quero colocar meu nome na história do clube. Não com o rebaixamento. Quero ser campeão", diz o camisa um, constantemente.
Há mais motivos para Felipe se sentir pressionado. Mais do que os colegas. "Ninguém quer ser rebaixado, ninguém aceita isso. E eu muito menos. Já caí duas vezes com o Vitória. Já pensou se acontecer de novo comigo? Nem quero pensar nisso. Então, o melhor é ficar calado. Sem falar nada, já se criou tanta polêmica".
A polêmica seguiu as constantes reclamações de Felipe com os companheiros, sempre que sofre um gol. Abre os braços, chuta a bola e grita com todos. Discutiu feio com Aílton, após o empate com o Náutico e com Iran e Fábio Ferreira, após o gol de Roger, no jogo contra o Flamengo. Ele não desmente as broncas, mas acha que houve um grande exagero.
"Um jogador entende o outro. A gente grita, critica, xinga e tudo acaba. Ninguém reclama, todo mundo pode falar e a coisa pára por aí. Os jornalistas dão um destaque muito grande. Esse tipo de coisa dá audiência para televisão e rádio e aumenta a venda dos jornais. Esse foi outro motivo que me fez ficar quieto por um tempo", disse. Ontem, ele falou. (Luís Augusto Símon)



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