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01/04/2013 - 03h40

Coleta ilegal de pepino-do-mar agita o México

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KARLA ZABLUDOVSKY
DO NEW YORK TIMES

Murmúrios sobre perseguições em lanchas, batalhas com arpões em alto-mar e mergulhadores que nunca reemergem surgem e somem por aqui qual uma tempestade vespertina.
Os pescadores veem os forasteiros -e se veem mutuamente- com desconfiança.

"Vamos estraçalhá-los", disse um deles, Jorge Luis Palma, olhando torto para um barco que ele não reconhecia.

O que trouxe tamanha hostilidade a esta aldeia? Pepinos-do-mar.

Esses espinhosos animais do fundo do mar não são consumidos no México, mas constituem uma iguaria altamente valorizada a meio mundo de distância, na China, o que motiva uma corrida do ouro marítima na península do Yucatán.

"A tensão agora explodiu", disse Manuel Sierra, um dos líderes não oficiais dos pescadores locais. A pesca do pepino-do-mar foi proibida, mas a fiscalização é frouxa.

Com a ascensão da classe média chinesa, a demanda por pepinos-do-mar disparou, esgotando as populações do animal nas águas asiáticas e do Pacífico.

A febre do pepino-do-mar cobra seu custo também aqui. Das estimadas 18 mil toneladas disponíveis em 2009, restam apenas 1.800 toneladas, segundo Felipe Cervera, secretário de Desenvolvimento Rural do Estado de Quintana Roo.

Essa redução levou à proibição de sua apanha, para permitir que a população se recomponha. Mas ela coincidiu com os defesos da garoupa, do polvo e da lagosta. Com poucas fontes de renda alternativas, alguns pescadores saem clandestinamente à procura do pepino-do-mar.

Os pescadores os vendem a intermediários que coordenam a viagem até portos do norte do México. De lá, onde as autoridades estão mais preocupadas em combater o narcotráfico, os pepinos-do-mar são embarcados para a China, onde um quilo custa mais de US$ 300. Os pescadores aqui podem ganhar mais de US$ 700 em um bom dia.

As cidades litorâneas estão cada vez mais hostis entre si -e também internamente. Famílias ficam divididas entre os que respeitam a proibição e os que pescam ilegalmente. Já houve casos de violência.

A coleta também está deixando uma bagunça ambiental. Numa visita de barco a um local de preparação clandestino, restos de pepinos-do-mar, garrafas de cerveja e maços de cigarros vazios pontilhavam a costa.

Mal treinados e mal equipados, muitos pescadores agora abandonaram os arpões e viraram mergulhadores. Eles descem a mais de 15 metros só com uma máscara, uma mangueira para respirar e uma rede.

Em Celestún, cidade a 200 km a oeste daqui, estimados 30 pescadores já morreram desde 2009 de doença da descompressão ao catarem pepinos-do-mar, segundo Álvaro Hernández, pesquisador do Instituto Nacional da Pesca.

Blanca Mezeta, 26, cujo marido morreu após um mergulho em janeiro, lembra de ter pedido a ele para que ficasse longe dos pepinos-do-mar. "Fica com o peixe", disse ela, contendo as lágrimas. "Embora seja menos dinheiro, ainda assim vamos comer."

 

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