Análise: Despertar dos gigantes ameaça protagonismo do Brasil no clima
Se o pacto climático entre China e Estados Unidos tiver o efeito previsto, os dois países devem deixar de travar as negociações do almejado acordo global de redução de emissões. Nesse cenário otimista, reduzem-se as chances de o Brasil continuar sendo protagonista na área.
Na última vez em que chefes de Estado se reuniram para tentar chegar a um acordo com metas claras para corte de CO2, em 2009, o Brasil estava em ritmo acelerado de redução do desmatamento (sua principal fonte de CO2) e desembarcava prometendo um corte de emissões.
O país reduziria até 39% de seu CO2 projetado para ser emitido em 2020. Na prática, seria um corte de cerca de 9% ao longo de uma década, na comparação com 2009.
A promessa deixava o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva à vontade para cobrar ação de outras nações. Seu discurso foi aplaudido como poucos durante aquele encontro em Copenhague.
Agora, porém, o país está numa condição diferente.
Sua meta prometida deverá ser cumprida, mas em razão da queda que o desmatamento sofreu até 2012. Nos anos seguintes, a devastação da Amazônia voltou a crescer.
Mesmo honrando sua promessa, o Brasil corre o risco de chegar à cúpula do clima de Paris, em 2015, com as emissões em curva ascendente. E enquanto chineses e americanos falam em objetivos para 2030, o Brasil dá sinais de que repetirá sua intenção projetada para 2020.
Ainda que o pacto sino-americano seja mais uma carta de intenções que um acordo vinculante, chineses falam agora em atingir 20% de energia renovável até 2030, o que provavelmente significará produzir mais energia do que o Brasil inteiro usando hidrelétricas, painéis solares e turbinas eólicas.
O Brasil tem respeitáveis 40% de sua matriz hoje (incluindo indústria e transporte) calcada em fontes renováveis, mas sinaliza uma aceleração do consumo de combustíveis fósseis. Não há como almejar um corte de emissões tão ambicioso quanto o chinês cuidando apenas do problema do desmatamento.
Para analistas como Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, o despertar de China e EUA pode mudar o cenário.
"Isso deveria estimular os demais grandes emissores –Índia, Rússia, Indonésia e Brasil– a apresentarem também compromissos pós-2020 de ambição compatível", diz.
Ele ressalta que as promessas de chineses e americanos ainda são insuficientes para evitar um aquecimento global de 2°C, considerado perigoso. "Mas para dizer que a proposta deles não é suficientemente boa, é preciso colocar alguma coisa na mesa."
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