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07/07/2010 - 19h33

Fotojornalista é assediado por segurança da BP e policiais no Texas

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DE SÃO PAULO

O fotógrafo freelancer Lance Rosenfeld estava trabalhando em uma pauta do site ProPublica na semana passada na Cidade do Texas (EUA), quando notou que um segurança da petrolífera BP começou a segui-lo. Rosenfeld foi depois detido pela polícia após tirar fotos para dois artigos do ProPublica. Um dos artigos revelava que a refinaria da BP na Cidade do Texas havia liberado ilegalmente na atmosfera 173 toneladas de produtos químicos tóxicos em abril e maio. A outra reportagem mostrava que a refinaria ainda tem um política de segurança pouco efetiva cinco anos após uma explosão que matou 15 funcionários.

O que segue é o relato de Rosenfeld sobre o que aconteceu naquela sexta à noite após a polícia, acompanhada por um segurança da BP, o terem abordado no posto de gasolina local.

ProPublica
Lance Rosenfield, fotógrafo do ProPublica, que foi abordado pela polícia e por seguranças da BP
Lance Rosenfield, fotógrafo do ProPublica, que foi abordado pela polícia e por seguranças da BP

RELATO

Estacionei meu carro no acostamento da rodovia 197, próximo a uma placa da Cidade do Texas, na parte sul da cidade e da refinaria. Caminhei até a placa e tirei umas fotos. Caminhei de volta para o carro e dirigi uns três quilômetros até um posto de gasolina que fica no caminho do meu hotel. Notei que algo como um caminhão de segurança, com luz no teto, estava me seguindo. Após eu ter parado no posto de gasolina Valero, o caminhão continuou seu caminho. Desci do carro para encher o tanque e, momentos depois, dois carros da polícia da cidade pararam ao lado do meu carro, me bloqueando, apesar de eu não estar tentando fugir.

O primeiro policial me perguntou o que eu estava fazendo. Ele disse que havia escutado que eu estava tirando fotos próximo a refinaria. Eu lhe disse que sou um fotojornalista e que apenas havia tirado algumas fotos de uma placa da Cidade do Texas. Ele pediu para ver as fotos e eu lhe disse que não era legalmente obrigado a lhes mostrar. O outro policial aproximou-se e pediu para ver as fotos. Eu disse a mesma coisa e lhes assegurei que eram apenas fotos da placa, tiradas quando estava em uma via pública.

Ele disse que eu devia mostrar as fotos, caso contrário ele poderia chamar o serviço de segurança doméstica e me prender. Concordei e mostrei as fotos na câmera enquanto ele tomou minha carteira de motorista. Enquanto isso, o caminhão que havia me seguido apareceu. O motorista era um segurança com um símbolo da BP no uniforme. O primeiro policial pareceu esmorecer, retirando-se para trás. Pedi o cartão do segundo policial; seu nome era T. Krietemeyer.

O policial anotou o meu nome, numero da carteira de identidade, número da placa, data de nascimento, número da seguridade social e telefone.

O segurança da BP pediu minhas informações pessoais e eu recusei, pois ele é um segurança privado e eu já havia dados meus dados à polícia. Então o segurança pediu os dados a Krietemeyer, que lhe mostrou.

Reclamei e perguntei com que base legal poderia um policial compartilhar minha informação pessoal com a BP? Nunca fui propriedade da empresa. Eles disseram que era procedimento normal e eu lhes disse que não concordava e não entendia que autoridade legal eles tinham para passar aquela informação.

Eles disseram que quando há uma ameaça à segurança doméstica, a BP produz um relatório. Eu disse que não era ameaça à segurança doméstica, que Krietemeyer já havia decidido que as fotos não representavam ameaça. Além disso, eu não estava sob custódia, então por que a BP estava obtendo minhas informações? Perguntei pelo nome do segurança: Gary Stief.

Krietemeyer e Stief me disseram que iriam ligar para o agente do FBI Tom Robison para vir ao local e explicar a situação. Eu disse que não achava necessário, mas Krietemeyer ligou para Robison de qualquer forma e me deu o telefone. Eles já haviam falado com Robison antes de chegarem. No telefone, Robison perguntou qual era meu problema. Eu disse que não entendia por que a BP estava obtendo minhas informações pessoais, mas que já estavam de saída. Ele disse: "Não, você vai ficar aí até eu chegar". Isso obviamente era uma tática para me assustar.

Robison levou alguns minutos e me perguntou qual era meu problema. Seu comportamento era agressivo. Repeti o que havia dito de maneira respeitosa. Ele afirmou, de forma agressiva, que uma refinaria como essa é um alvo de terroristas e que, toda vez que alguém tira fotos dela, eles precisam investigar.

Ele perguntou para quem eu trabalhava. Eu disse que sou um fotojornalista freelancer e que, no momento, estava trabalhando em uma pauta para o ProPublica. Ele pediu provas, e eu lhe mostrei uma carta de Susan White, editor sênior do site. Krietemeyer anotou a informação. Robison tentou descobrir qual era a pauta, mas dei respostas vagas porque não sou o repórter e porque não via a importância disso. No fim ele perguntou se era sobre a BP, eu disse que sim, o que o fez ficar ainda mais irritado.

Senti então que Robison, Stief e o segurança da BP começaram a me assediar, mantendo me lá contra minha vontade, falando comigo de forma agressiva e tentando associar o que fiz com atividades terroristas, ignorando o que realmente aconteceu. Mantive-me calmo e educado.

Robison perguntou duas vezes ao policial Krietemeyer se ele havia olhado cuidadosamente as fotos para ver se elas não representavam ameaça. Krietemeyer disse que não. Robison parecia trêmulo, cheio de adrenalina; estava claramente nervoso.

Stief disse que estava pronto para ir embora e o grupo se dispersou rapidamente.

Apertei a mão dos três homens. Acho que a coisa toda demorou entre 20 e 30 minutos.

 

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