Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/07/2010 - 15h47

Marmotas engordam e se multiplicam com aquecimento global

Publicidade

MAURÍCIO KANNO
DE SÃO PAULO

Pelo menos alguém está se dando bem com a temida mudança climática. As marmotas, mamíferos que ficaram famosos pela tradição de "prever o tempo" nos Estados Unidos, cresceram, ficaram mais fortes e numerosas.

Norte-americanos cultivam a crença de que no tradicional Dia da Marmota, 2 de fevereiro, é possível descobrir se o inverno será longo ou curto. Se uma marmota deixar sua toca neste dia num momento em que o sol está forte, enxerga sua própria sombra e volta para a toca, isso significaria que o período de frio vai se prolongar.

Nenhuma pesquisa comprovou se as marmotas realmente conseguem prever o tempo, mas o novo estudo mostrou o contrário: o clima influencia bastante a vida desses animais. O trabalho sai na edição desta semana da revista "Nature", assinado por pesquisadores do Reino Unido e EUA. Eles se basearam em 33 anos de monitoramento (1976-2008) de uma população de marmotas-de-barriga-amarela (Marmota flaviventris) no Colorado.

Ben Hulsey/Divulgação
Filhote de marmota de barriga amarela, espécie cuja população aumenta com o aquecimento global, segundo estudo
Filhote de marmota de barriga amarela, espécie cuja população aumenta com o aquecimento global, segundo estudo

A marmota tem um longo período de hibernação durante o inverno, de cerca de seis meses, quando chega a perder até 40% de seu peso.

O que ocorre com o aquecimento global é que muitas regiões ficam cobertas de neve por menos tempo. Isso, aliado a outros fatores climáticos ligados a temperaturas mais quentes, faz os animais acordarem antes. Logo em seguida --cerca de um mês depois--, fazem seu acasalamento, e seus filhotes também nascem logo.

Com mais tempo para comer, as marmotas crescem e engordam mais antes do próximo inverno e hibernação. A pesquisa revelou que as marmotas adultas (2 anos ou mais) passaram de cerca de 3,1 kg para 3,4 kg em média, da primeira para a segunda metade do acompanhamento.

Essa mudança mostrou-se proveitosa para a sobrevivência das marmotas: mais fortes, a mortalidade entre os adultos caiu.

E isso levou a um "repentino aumento no tamanho de sua população", descreve o estudo. Afinal, se a média era aumento de cerca de uma marmota a cada dois anos, a partir de 2001 a comunidade passou a ganhar 14 marmotas por ano.

Raridade e sorte

Apesar da aparente "sorte" da marmota, Karen Regina Suassuna, especialista em políticas públicas em mudança climática da ONG WWF-Brasil, alerta para o último relatório do painel do clima da ONU (IPCC), que prevê extinções maciças caso a temperatura suba mais de 2ª C até o fim do século..

De todo modo, como há variações por espécies, é importante que as poltícias de conservação acompanhem esses estudos, avisa ela.

Marcel Visser, do Instituto de Ecologia da Holanda, em resenha sobre o artigo, destaca que são raras demonstrações como essa, explicando como o aquecimento global afeta as populações.

Em estudos similares, os animais não tiveram tanta sorte: mostraram por exemplo diminuição do tamanho de ovelhas das ilhas escocesas de Santa Kilda; declínio de uma população de pinguins-imperadores, e também de lagartos de regiões equatoriais.

"Demonstramos pela primeira vez como esse tipo de dinâmica dupla pode ser investigada", diz Arpat Ozgul, um dos autores do estudo, referindo-se aos aspectos tanto demográficos como individuais observados. "E é um dos mais longos estudos baseados em uma população de mamíferos."

A pesquisa também destaca que o aquecimento global afeta de maneira mais aguda as espécies que vivem em ambientes mais extremos, como os montanhosos --caso das marmotas.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página