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23/08/2010 - 08h51

MT tem última "queimada científica"

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SABINE RIGHETTI
ENVIADA A QUERÊNCIA (MT)

"Sinto pena, mas tem de fazer isso pela ciência, né?", filosofa Osvaldo Portela, funcionário do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ao observar algumas árvores em chamas.

Fogo na floresta 'expulsa' algumas espécies e atrai outras

O incêndio que esse amazônida nativo acompanha não é acidental. Foi provocado por uma equipe multidisciplinar de 30 cientistas.

Eles estudam os efeitos das queimadas numa floresta de transição no nordeste do Mato Grosso, formada por árvores maiores que as do cerrado, mas não tão grandes quanto as da mata amazônica "padrão".

O fragmento florestal de 150 hectares onde acontece o experimento foi dividido em três partes iguais. Uma fatia permanece intocada, um terço foi queimado anualmente desde 2004 e o outro sofreu queimadas controladas a cada três anos (num total de três queimas).

Na semana passada, o grupo, acompanhado pela reportagem, realizou a última queima controlada do projeto. Agora, os cientistas vão acompanhar, até 2013, como as áreas queimadas no projeto se regeneram.

PIROTECNIA CIENTÍFICA

Há um bom motivo para estudar o quanto a floresta é inflamável. "Mesmo que o desmatamento da Amazônia pare nos próximos anos, o fogo ainda será um grande inimigo da floresta", justifica o engenheiro florestal Paulo Brando, do Ipam, um dos coordenadores do trabalho.

O fogo pode ter causas naturais (como raios) ou pode ser provocado pelo homem. Especialmente em Mato Grosso, é comum que florestas próximas de pastos sejam atingidas por queimadas promovidas por fazendeiros para "renovar" o solo.

"Sabemos que um incêndio emite 20 toneladas de CO2 na atmosfera por hectare. Mas ninguém sabe como uma floresta queimada se recompõe", explica a ecóloga americana Jennifer Balch, que divide a coordenação do estudo com Brando.

Ela é associada ao Ipam e pertence à instituição americana WHRC (Centro de Pesquisa Woods Hole, em inglês), parceira no trabalho.

Edson Cintra/Divulgação
Os pesquisadores Jennifer Balch e Paulo Brando acompanham incêndio controlado em mata de transição
Os pesquisadores Jennifer Balch e Paulo Brando acompanham incêndio controlado em mata de transição

MAIS CALOR, MAIS FOGO

Os pesquisadores já observaram que o microclima da floresta é alterado desde o primeiro incêndio. Há uma reconfiguração do solo da floresta (que fica mais arenoso) e do dossel --o "teto" da mata, formado por galhos e folhas das copas das árvores (que fica mais espaçado).

Com dossel mais aberto e maior entrada de luz, a floresta aumenta de temperatura e perde umidade --o que a deixa mais suscetível a novos incêndios. Além disso, fica mais fácil a invasão de capim dos pastos vizinhos.

Algumas das 120 espécies de plantas notificadas na região do estudo já desapareceram com as queimadas. Resta saber por que algumas morrem e outras sobrevivem.

"A ideia agora é criar modelos de mortalidade das árvores e desenvolver técnicas de recomposição das florestas queimadas", explica Brando, do Ipam.

Os pesquisadores viram também que uma seca ocorrida em 2007 dobrou a mortalidade das árvores submetidas à queima naquele ano, em comparação com os anos anteriores.

"Isso é importante porque essa região é muito suscetível a futuras mudanças climáticas, que poderão incluir períodos de secas", explica Brando. Ou seja, a soma de seca e incêndios pode resultar numa equação desastrosa para a floresta.

 

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