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04/01/2012 - 07h20

E tome mais previsões!

IVAN LESSA
COLUNISTA DA BBC BRASIL

Já estamos na primeira semana do olímpico ano de 2012, foram-se os feriadões acumulados, a maior parte da humanidade já curou a carraspana e mal se lembra daquela beleza que foram os fogos de artifício da Austrália a Nova York, passando, é claro, pela mais bonita das queimas de fogos do mundo que é a nossa, em Copacabana.

Valeu a pena.

Passou também a mania de fazer lista e resumo dos pontos mais relevantes de 2011 (foram 17 contadinhos). O rol de celebridades mortas desfilou em fotos velhas sorrindo sem sequer desconfiar que não pegariam o raiar do ano que apenas se inicia.

No entanto, morre-se no Afeganistão, maridos esfaqueiam suas mulheres, dá-se a partida para a corrida presidencial nos Estados Unidos e, como 2012 ainda não engatou direito, ainda tem gente nos meios de comunicação fazendo previsões. Estão certos.

Mais fácil prever do que informar.

Uma profecia é uma borboleta voando adoidada pelo ar, um fato é uma bala zunindo em nossa direção.

No que despedimo-nos da musa vesguinha que soprou a frase e passamos, porque é forçoso dizê-lo, todos os anos são a cara escarrada um dos outros e não há de ser nem filme nem televisão em 3D que vá mudar alguma coisa.

Aquela velha história. Camaradinha passou uns meses fora do Rio. Na volta, perguntou ao esplêndido cronista Rubem Braga se havia alguma novidade. O sabiá da crônica, como ele detestava ser chamado (preferia "o vira-bosta da crônica"), do alto de sua serenidade e seu duplex na Barão da Torre, respondeu sereno de bate-pronto: "Hollywood com filtro".

Fumar saiu de moda. Com ou sem filtro. Rubem Braga espero que nunca.

Mas as previsões continuam.

Outro dia mesmo, fiz de minhas patetices com o grande empulhador que foi Nostradamus, que de manhã olhava pela janela via nuvem escura e depois jurava, em quadra decassílaba, que ia fazer sol.

Hoje, depois das leituras das festas, volto ao assunto.

Isso porque li no blog de Joel Stein, da revista Time, uma interessante matéria sobre as previsões que levam o endosso dos quase extintos povos pré-colombianos maias que ainda sobrevivem, sabe-se lá por que graça do deus Bolon Yokte (existe mesmo), em certas regiões da América Central.

Ora, diz o bom Joel Stein que os maias (não confundir com a familia criada por Eça de Queiroz) prevêm que o mundo terminará no dia 21 de dezembro de 2012.

O jornalista e blogueiro americano não menciona se a velha civilização acertou alguma coisa, uma loteca que fosse, em anos, décadas ou séculos anteriores, o que, em si, já é um dado.

Joel Stein, no entanto, é macaco velho, desses que manja se cigarro com filtro constitui ou não novidade, e pôs-se a fazer perguntas, que é a principal ocupação do jornalista.

Vira, mexe, e acabou descobrindo, entre historiadores e sociólogos de primeiro time que maia, ao menos em inglês, não tem plural. Não é "mayan", é "maia" mesmo e apenas, não importa seu número. Está aí um exemplo de jornalismo construtivo e instrutivo. Apurou ainda meu guru informático que a história de que o mundo terminará segundo o calendário dos "maia" no ano em que estamos é pura fantasia, ou pior, pura má interpretação ou ignorância dos fatos.

Não há maia vivo que tenha ouvido falar nessa história. Para um maia qualquer previsão apocalíptica é apenas isso: previsão e apocalíptica. No caso, ambas furadas.

Depois de muito correio eletrônico trocado entre jornalista e gente que lida com os "maia", tais como hoteleiros venezuelanos e pescadores mexicanos, Stein recebeu a informação valiosa: é uma questão de calendário. O que acaba é um calendário maia e começa outro. Em dezembro do ano corrente. Sem banhos de sangue, sem fim de mundo nenhum.

Portanto: se os "maia", com cinco milênios de história no lombo, estão por fora e limitam-se, modestos, a cuidar dos calendários, a fim de saber o que plantar e o que não plantar, por que raios há de uns brotos pretensiosos e herméticos feito Nostradamus se meterem a dizerem e escreverem bobagem?

De garantido mesmo, é que um grande astro de Hollywood (sem filtro) vai nos deixar de vez e a dadivosa internet vai continuar dando e dando e dando, a mais não poder. O resto é sonhar com rei e depois apostar no leão.

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