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12/01/2011 - 11h02

Um ano depois do terremoto, Haiti permanece em ruínas

ALESSANDRA CORRÊA
ENVIADA ESPECIAL DA BBC BRASIL
A PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

Os haitianos farão um minuto de silêncio às 16h53 desta quarta-feira (19h53 em Brasília) para marcar o momento exato em que um terremoto de magnitude 7 atingiu o país, em 12 de janeiro de 2010.

Veja vídeo da BBC sobre a situação no Haiti

A cerimônia será realizada diante do palácio presidencial, no centro de Porto Príncipe, que permanece em ruínas, como um símbolo da situação de paralisia em que vive o país um ano depois da tragédia.

Além de prestar homenagem às vítimas --estimadas em mais de 230 mil--, as diversas cerimônias previstas para esta quarta-feira também deverão ser marcadas por críticas em relação à demora no processo de reconstrução do país.

Ao longo dos últimos dias, diversas agências humanitárias que atuam no Haiti têm lançado relatórios de balanço do primeiro ano após o terremoto.

A conclusão é que, apesar da onda de solidariedade e doações que a tragédia inspirou na comunidade internacional, a reconstrução do Haiti ainda não começou.

ESCOMBROS

As ruas da capital haitiana estão repletas de entulho misturado ao lixo.

Nos sete dias em que a reportagem da BBC Brasil passou no país, no final de dezembro, foi possível ver muitos escombros e prédios destruídos, mas quase nenhum sinal de reconstrução.

Segundo um relatório da organização não-governamental (ONG) Oxfam, apenas 5% dos escombros foram removidos nesses 12 meses.

A USAID, agência de assistência humanitária do governo americano, calcula que pelo menos 9 milhões de metros cúbicos de entulho ainda estejam nas ruas.
Esses escombros acabam bloqueando o processo de reconstrução.

"Não é possível haver reconstrução sem que essas grandes quantidades de entulho sejam removidas", diz a conselheira do Departamento de Estado americano, Cheryl Mills.

A conselheira estima que ainda deve levar de três a cinco anos até que se comece a ver os resultados do processo de reconstrução do Haiti, com prédios erguidos e programas implementados, e não apenas projetos no papel.

DESABRIGADOS

Mills admite, porém, que alguns problemas são mais urgentes e não podem esperar tanto tempo, entre eles a remoção dos escombros e a questão da moradia.

Estima-se que o terremoto tenha destruído 105 mil casas, danificado outras 208 mil e deixado mais de 1,5 milhão de desabrigados. Um ano depois, calcula-se que mais de 1 milhão de haitianos ainda vivam em acampamentos de desalojados.

As barracas de lona, distribuídas como medida emergencial logo após a tragédia, acabaram se tornando moradia permanente para essas pessoas.

O relatório da Oxfam diz que apenas 15% das moradias temporárias (casas de madeira compensada e com forro de plástico corrugado, mais resistentes à chuva e ao vento que as barracas de lona) foram construídas.

Um relatório da ONG Action Aid diz que menos de 30 mil pessoas conseguiram ser transferidas para casas permanentes.

Dos cerca de 1.300 acampamentos de deslocados (segundo a ONU), calcula-se que apenas em torno de 10% sejam reconhecidos oficialmente. No restante, não há água potável, saneamento e, em muitos casos, nenhum tipo de ajuda.

Moradores relataram à BBC Brasil que a população nos acampamentos vem aumentando, inflada por haitianos que não conseguem pagar aluguel e são obrigados a procurar abrigo nas barracas.

INFRAESTRUTURA

O Haiti já era um país devastado antes mesmo do terremoto. Segundo dados do Departamento de Estado americano, 80% da população vivia com menos de US$ 2 por dia, a taxa de desemprego ultrapassava 70% e menos de 12% das pessoas tinha acesso à eletricidade.

A já precária infraestrutura do país foi arrasada na tragédia. O governo do Haiti diz que foram destruídos quase 30 ministérios, 50 hospitais e centros de saúde e 1.300 escolas.

Não apenas as instalações foram destruídas, mas também houve perda de pessoal capacitado, já que muitos dos mortos eram funcionários públicos e técnicos.

Segundo o Banco Mundial, as perdas e danos provocados pelo terremoto são de cerca de US$ 7,9 bilhões, ou cerca de 120% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

O governo do Haiti calcula que sejam necessários mais de US$ 11 bilhões para a reconstrução.

Em uma conferência realizada em março, em Nova York, doadores prometeram US$ 5,3 bilhões para ações de reconstrução nos próximos dois anos. Desse montante, US$ 2,1 bilhões estavam previstos para 2010, mas menos da metade chegou efetivamente ao Haiti.

CRÍTICAS

As milhares de agências internacionais que atuam no país desde o terremoto são criticadas pela falta de coordenação entre si, o que prejudicaria os esforços de recuperação.

A Comissão Interina de Reconstrução do Haiti, criada em abril e copresidida pelo primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, e pelo ex-presidente americano Bill Clinton, também é alvo de críticas.

"Até agora, a comissão fracassou", diz a Oxfam em seu relatório. "Quase nenhum grande projeto de reconstrução foi iniciado."

O próprio Clinton, que é o enviado especial da ONU para o Haiti e está desde essa terça-feira no país, diz estar "frustrado" com o ritmo lento da reconstrução. "Ninguém está mais frustrado do que eu por não termos feito mais", disse Clinton, em Porto Príncipe.

No entanto, ele afirmou esperar que, a partir de agora, a reconstrução ganhe ritmo.

CÓLERA E ELEIÇÕES

Os esforços de reconstrução sofreram mais um golpe a partir de outubro, quando uma epidemia de cólera eclodiu no departamento (Estado) de Artibonite, na região central, e logo se espalhou por todo o país.

Impulsionada pela falta de saneamento e água potável na maioria das favelas e acampamentos, a doença já atingiu 171 mil haitianos, segundo o Ministério da Saúde do país, deixando mais de 3.600 mortos.

Em meio a tantos problemas, os haitianos enfrentam ainda a tensão política provocada pelas eleições de 28 de novembro, marcadas por acusações de fraude.

A contagem inicial dos votos indicou uma disputa no segundo turno entre a ex-primeira-dama Mirlande Manigat e o candidato governista, Jude Célestin, apoiado pelo presidente René Préval.

A divulgação desses resultados provocou uma onda de protestos, principalmente por parte de eleitores do cantor Michel Martelly, que teria ficado menos de 7.000 votos atrás de Célestin --fora, portanto, do segundo turno.

Diante da violência dos protestos, uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) ficou encarregada de revisar os resultados. A expectativa é de que o parecer seja entregue a Préval ainda nesta quarta-feira.

Informações vazadas pela imprensa afirmam que a OEA teria decidido que o segundo turno seria disputado por Manigat e Martelly, deixando Célestin de fora.
Seja qual for o resultado, há o temor de que as cerimônias em homenagem às vítimas do terremoto acabem marcadas por mais protestos.

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