Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/02/2011 - 09h09

Jovens: em trânsito, engarrafados, em chamas

LUCAS MENDES
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK

A Grande Recessão americana foi campeã de desempregos: 8 milhões. Mais do que as quatro anteriores juntas.

Mas em dezembro, na indústria privada, o número de contratações foi excepcional e cresce entre os que tem alguma educação universitária. Quanto mais diplomas, melhor, mas estes não garantem emprego imediato nem salários altos.

Jovem americano, homem ou mulher, desempregado ou mal empregado, muda de cidade ou Estado. Raramente muda de país em busca de empregos, mas, desde 2008, milhares se mandaram para a Índia. Com passagem de ida e volta.

Os peregrinos desembarcaram nos Estados Unidos no século 17 sem passagem de volta para a Europa e os milhões de imigrantes que chegaram depois, com raríssimas exceções, vieram para ficar. Inclusive a maioria dos estudantes universitários que vêm fazer mestrados e doutorados.

Ano passado, quase 700 mil jovens vieram estudar nas faculdades americanas. Chineses, 128 mil, e indianos, 105 mil, foram os maiores contingentes. Com os coreanos, eles formam o melhor time em matemática, ciências e informática do mundo.

Milhares de chineses e indianos, com seus mestrados e doutorados, voltaram para seus países. O recrutamento chinês é agressivo, com vídeos das novas faculdades, novos centros de estudos e pesquisas, ofertas de bons salários, garantias e benefícios. A paciência dos jovens, como a grana, é curta. Diante de um aceno tentador, bye bye Tio Sam.

Não é fácil calcular este prejuízo. Os jovens estrangeiros estão entre os maiores empreendedores no país: o cocriador do Google é um russo, do eBay, iraniano, do Yahoo, taiwanês, da MicroSystems, indiano.

Os jovens japoneses, que foram tão criativos em indústrias campeãs --Sony, Honda, Toyota-- hoje são menos empreendedores e mais engarrafados. Como os americanos, os japoneses raramente saem do país em busca de empregos, mas até os bem diplomados japoneses estão mal empregados, vítimas da "democracia grisalha". O Japão é um país de tradições e mesmo quando a economia está por baixo, os mais velhos estão por cima.

As empresas não demitem os veteranos. Contratam os jovens por salários menores, menos tempo, não pagam pensões nem seguro de desemprego. Sem dinheiro para pagar suas próprias e mandatárias pensões, os jovens saem fora do sistema. Daqui a quarenta, cinquenta anos, quando se aposentarem, serão velhos miseráveis.

A juventude árabe vai pior até do que a africana. Os mais e os menos educados, a maioria desempregada, a juventude árabe está nas ruas e não busca só empregos. Uma indignidade banal pode implodir este universo corrupto, onde milhões são reprimidos, torturados e mortos impunemente todos os dias.

Um tapa na cara queimou a ditadura na Tunísia e ameaça tantas outras. Muhamed Bouazizi tinha diploma universitário, mas, aos 26 anos, era um vendedor de frutas numa cidade pobre e pequena da Tunísia. Os fiscais exigiam e ele pagava os subornos, mas neste começo de ano, Muhamed estava duro.

Naquele dia, além de multá-lo, a fiscal confiscou sua balança nova e ia jogar as frutas fora. Ela puxou o carrinho de lá, ele puxou de cá. Levou um tapa na cara, cuspidas e um chega pra lá dos parceiros da fiscal.

No departamento em que deu queixa, foi posto para fora com ameaças de novas multas. Comprou um solvente de tintas, foi para a porta do palácio do governador, se encharcou, e acendeu um fósforo.

Nos países afluentes, os jovens querem empregos e futuro. No mundo árabe, querem o básico: dignidade.

+ Livraria

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página