Após ano febril, reviravoltas no mundo das artes plásticas são esperadas para 2018

Foi um ano febril este que chega ao fim. O mundo da arte —da Bienal de Charjah à Documenta de Kassel, na Alemanha, até o Panorama do MAM paulistano— ensaiou uma série de leituras poderosas de um mundo em convulsão, mas acabou refém de manobras de grupos políticos conservadores no Brasil e no resto do planeta –militantes que parecem não ter nada mais relevante a fazer que buscar em leituras estéticas capengas um espelho horrendo de sua pobreza de espírito.

É triste que a história talvez marque 2017 como o momento em que protestos fizeram o Masp proibir uma mostra para menores de idade e provocaram até a agressão física de trabalhadores de museus como o MAM. Mas debaixo dessa agitação infeliz houve motivos para lembrar por que as artes visuais e seus templos são cada vez mais necessários na hora de vislumbrar um futuro menos intolerante e obscuro.

Numa agenda internacional carregadíssima, uma fraca Bienal de Veneza ao menos ressuscitou a figura de mestres como Paulo Bruscky e jogou os holofotes —merecidos— sobre jovens artistas como Cinthia Marcelle. A artista que transformou o pavilhão brasileiro numa espécie de jaula violentada não poderia ter construído um retrato mais contundente do Brasil atual.

Uma Documenta desmembrada entre Atenas e sua sede alemã habitual revelou, nas entrelinhas, fissuras que ainda abalam o establishment artístico europeu, entre uma Berlim todo-poderosa e uma Grécia ainda aos farrapos.

Mesmo um tanto sobrecarregada, houve momentos brilhantes nas duas pernas desta que é a maior mostra de arte contemporânea do mundo.

No Brasil, Nuno Ramos transformou o "Jornal Nacional" em canção de protesto, remixando falas de seus jornalistas para comentar o quadro instável na ressaca do impeachment. Enquanto isso, dois espaços culturais deslumbrantes surgiram em São Paulo, o Sesc 24 de Maio e o Instituto Moreira Salles da avenida Paulista, palco dos protestos contra e a favor da troca de comando em Brasília. E o erotismo, tão temido por quem vê monstros em museus, também esteve em alta, com mostras de fôlego no Masp, de Teresinha Soares a Toulouse-Lautrec, passando por Miguel Rio Branco e Tunga.

O ano que vem, quando o Brasil enfrenta eleições presidenciais e Donald Trump luta para manter o controle de seu partido sobre os parlamentares de Washington, talvez prometa novas reviravoltas. Enquanto isso, é certo que haverá mais uma Bienal de São Paulo, desta vez sob o comando de Gabriel Pérez-Barreiro, que pode estar armando uma reprise de sua Bienal do Mercosul de oito anos atrás, e uma grande retrospectiva de Tarsila do Amaral no MoMA, em Nova York. Suas telas coloridíssimas, aliás, abrem o calendário do museu nova-iorquino em fevereiro, uma espécie de Carnaval para espantar o baixo astral do inverno americano.

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