Avanços tecnológicos têm se mostrado silenciosos, impactantes e pouco visíveis

Guilherme Henrique

Nem os skates voadores de McFly em "De Volta para o Futuro" nem os robôs domésticos dos "Jetsons" —o futuro chegou sem trazer essas novidades coloridas e barulhentas.

Previsões tecnológicas representam perigo ainda maior que as econômicas. Os avanços têm se mostrado muito mais impactantes do que se imaginava. Mas são, ao mesmo tempo, menos visíveis, mais silenciosos do que o esperado.

Em vez de veículos zunindo pelos ares, há um mundo conectado em rede, onde o que voa é a informação, não os seres humanos (que aliás vão cada vez mais lentos, abdicando do Concorde e baixando os limites de velocidade nas cidades). O robô doméstico não anda pelas casas mundo fora; ao contrário, são as coisas que lá já estavam que vão ganhando processamento e conectividade.

Esse silêncio aparente será cada vez mais ruidoso. A tecnologia tomou tal proporção que atravessa tudo e todos, e em 2017 a percepção desse fenômeno ganhou massa crítica —o rosto de Donald Trump estampado diariamente ajuda todos a recordarem o poder das redes sociais e o perigo das notícias falsas.

Espere um 2018 de muito questionamento e gritaria. Pessoas físicas e jurídicas perceberão como sua vida é cruzada a todo momento por decisões baseadas em algoritmos cada vez mais potentes.

Problemas de privacidade vão aflorar com frequência inédita, e nem todo mundo vai achar graça quando o celular pedir que avalie um restaurante em que esteve dois dias atrás.

Disputas de negócios decorrentes do avanço tecnológico ficarão evidentes e parrudas —as gigantes da costa oeste americana atingiram porte que lhes permite competir com os grandes bancos.

O ciclo de eleições no Brasil e na América Latina trará para perto de nós problemas de interferências no voto já conhecidos do mundo rico.

Forçado pela realidade, o poder público vai atuar como nunca nesse front, às vezes sem ser efetivo, às vezes sem ter clareza sobre qual o nível adequado de regulação.

O melhor anemômetro desse vento parece estar na Europa. As instâncias da UE deverão continuar liderando os questionamentos às gigantes de tecnologia. Não só sobre práticas contábeis e competitivas, mas também na relação direta com o consumidor.

Nesse aspecto, o calendário de 2018 já tem um furacão com data marcada: em maio entra em vigor o chamado GDPR, que, ao balizar o uso de dados dos cidadãos europeus, afetará todo mundo.

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