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06/10/2012 - 05h04

Trocar cateter a cada três dias é desnecessário, diz estudo

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RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um estudo australiano publicado na mais tradicional revista médica britânica demonstrou que uma prática feita rotineiramente faz 40 anos em hospitais de todo o mundo não faz mais sentido.

É universal a ideia de que cateteres nas veias dos pacientes devem ser trocados a cada três dias. É através deles, também conhecidos como "acessos", que os medicamentos são administrados de modo eficiente. Permanentemente colocados no paciente, impedem que seja necessário dar injeções toda vez que algo precisa ser administrado via veia.

O estudo publicado em "The Lancet" mostrou que isso não é necessário, e que trocar o cateter apenas quando clinicamente obrigatório pode economizar milhões de dólares, euros ou reais, além de evitar trabalho adicional dos enfermeiros, e poupar os pacientes de um incômodo extra, pois o novo acesso vai ter que furar outra parte do corpo.

O exemplo americano impressiona. Segundo o artigo, cerca de 200 milhões de cateteres intravenosos são inseridos por ano apenas nos Estados Unidos. Supondo que 15% deles são necessários por mais que três dias, mudar o procedimento para a substituição apenas quando necessária evitaria o uso de seis milhões de cateteres, economizando dois milhões de horas de trabalho da enfermagem, e até US$ 60 milhões, segundo a principal autora do estudo, Claire Rickard, da Griffith University, Austrália.

Já existiam indicações de que a regra dos três dias estava obsoleta. Seu objetivo era prevenir infecções e a inflamação das veias conhecida como flebite. Mas, agora, trata-se do primeiro estudo envolvendo um grande número de pacientes.

Cerca de 70% dos pacientes adultos hospitalizados precisam de um cateter na veia.

Foram estudados 3.283 pacientes em hospitais australianos que receberam 5.907 cateteres nos vários locais possíveis --em cima do antebraço, debaixo dele, nas mãos etc. Foram divididos em 1.593 que trocavam o acesso apenas quando necessário; e 1.690 tinham a troca de rotina, teoricamente a cada 72 horas.

No estudo, na prática, o cateter do grupo da prática tradicional foi substituído a cada 70 horas em média e a cada 99 horas no caso dos "clinicamente necessário".

O principal fator testado --a inflamação, a flebite, que causa avermelhamento e inchaço da região de inserção do cateter-- ocorreu exatamente na mesma proporção dos dois grupos testados: 7% dos casos. Não houve nenhum efeito mais sério, como uma infecção grave, em nenhum dos pacientes.

Curiosamente, o estudo mostrou que um dos maiores problemas com os cateteres intravenosos foi a sua remoção acidental ou por defeitos, infiltração e entupimento: quase 30% dos casos. Ou seja, a flebite e a infecção causaram menos problemas, ao contrário daquilo em que se tem acreditado por 40 anos.

EXPERIÊNCIA PESSOAL

É curioso, para dizer o mínimo, quando um artigo científico coincide com sua experiência pessoal. Em geral, o conhecimento "anedótico" nem sempre corresponde com a realidade científica. A pessoa pode se curar naturalmente, e atribuir o resultado a uma prática duvidosa, por exemplo da tal medicina "alternativa".

A troca de cateteres intravenosos a cada três dias me pareceu uma rotina desnecessária quando estive internado por doze dias este ano devido a uma hemorragia intestinal que me causou uma anemia. Caramba, o cateter está funcionando, não há dor nem inflamação no local onde ele está, pra que trocar só por que três dias se passaram?

O cateter vira parte do seu corpo, permanentemente inserido em uma veia. Como fiquei doze dias internado, tive mais de uma troca. Concluí que o melhor lugar para o acesso venoso é sobre o braço. Não atrapalha, não machuca tanto como se estivesse na veia na mão. Se colocado na dobra do braço, por dentro, às vezes você interrompe o fluxo do medicamento ao se mexer.

E como o estudo australiano mostrou, é fácil retirar o acesso acidentalmente. Vamos deixar claro: o acesso é uma sensacional invenção que evita que você seja furado toda vez que precisar de remédio. Fiquei fã. E se precisar ser hospitalizado de novo (toc, toc), vou levar uma cópia deste artigo para os médicos e enfermeiras...

 

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