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19/01/2013 - 04h40

Acervo arqueológico está amontoado em universidade do Amazonas

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KÁTIA BRASIL
DE MANAUS

À espera de um laboratório prometido pela Petrobras desde 2006, um acervo arqueológico está há um ano guardado em cerca de 700 caixas de plástico em salas e num galpão da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), em Manaus. Tudo amontoado, sem segurança contra roubos e incêndios.

O acervo é resultado de 18 anos de escavações do Projeto Amazônia Central e contém restos ósseos, cerâmicas, urnas funerárias e lâminas lascadas, tudo localizado em sítios arqueológicos com datações de 4.000 a 9.000 anos.

Com esse tesouro arqueológico, por exemplo, cientistas do projeto puderam comprovar a tese de que a bacia amazônica era densamente ocupada por sociedades complexas na Pré-História.

Alberto César Araújo/Folhapress
Pesquisadores trabalham em galpão na Universidade Federal do Amazonas que abriga de forma improvisada peças de sítios arqueológicos
Pesquisadores trabalham em galpão na Universidade Federal do Amazonas que abriga de forma improvisada peças de sítios arqueológicos

A construção do Laboratório de Arqueologia da Ufam, orçada em R$ 4,8 milhões, foi prevista como compensação dos impactos ambientais e arqueológicos ocorridos na obra do gasoduto Urucu/Manaus, inaugurado pelo ex-presidente Lula, em 2009.

Helena Lima, 33, doutora em arqueologia pela USP e atual coordenadora de pesquisas do Museu Amazônico da Ufam, diz que o acervo é o material mais significativo que existe hoje entre as descobertas na Amazônia.

"Estamos em 2013 e nada foi feito. O acervo está num espaço provisório e o laboratório está na promessa. É um descaso da Petrobras. Nem esperança a gente tem mais", afirma Helena.

A atual administração da empresa, comandada por Graça Foster, ainda não assinou nem deu prazo para firmar convênio com a universidade para iniciar as obras e contratar profissionais.

INFILTRAÇÕES

Além de Helena, a reportagem encontrou Filippo Stampamo, 32, e Marta Cavallimi, 33, ambos da USP, trabalhando num galpão da área sul do campus da Ufam.

O espaço, que tem abastecimento precário de água e energia, virou um laboratório improvisado. Quando chove, há infiltrações.

Alberto César Araújo/Folhapress
O arqueólogo Luciano Souza pega material encaixotado
O arqueólogo Luciano Souza pega material encaixotado

No galpão, estão acomodadas em caixas e estantes dezenas de urnas de até 2.000 anos, muitas encontradas em sítios localizados em Manaus. Parte também foi resgatada na própria obra do gasoduto da Petrobras.

Ao lado do depósito improvisado, há um lixão a céu aberto com restos de móveis.

Outra parte do acervo está em três salas do Instituto de Ciências Biológicas da Ufam, sem nenhum sistema de segurança nem climatização.

Todas essas peças estavam anteriormente em São Paulo. Mas um outro acordo entre a Petrobras, a Ufam e a USP transferiu a guarda do acervo para Manaus em dezembro de 2011.

O Projeto Amazônia Central foi criado em 1995 pelos cientistas Michael Heckenberger (Departamento de Antropologia da Universidade da Flórida), James Petersen (Departamento de Antropologia da Universidade de Vermont) e Eduardo Góes Neves (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo).

Peterson, que escavava em Iranduba (AM), foi assassinado numa tentativa de assalto na cidade, em 2005.

OUTRO LADO

A Petrobras informou que a construção do Laboratório de Arqueologia da Ufam terá início após a assinatura de um convênio ou acordo, mas não divulgou a data de assinatura desse termo.

A empresa disse à reportagem que já realizou o processo licitatório da obra, orçada em R$ 4,8 milhões.

Segundo a Petrobras, após a assinatura, o Laboratório de Arqueologia será construído num prazo de 12 meses.

A empresa afirmou que uma verba de R$ 1,1 milhão será repassada à Ufam para catalogação e guarda dos achados arqueológicos na obra do gasoduto. "O resultado esperado é o de um laboratório de excelente nível técnico, suprindo uma deficiência do Estado do Amazonas", disse a empresa.

A reportagem procurou o vice-reitor da Ufam, professor Hedinaldo Narciso de Lima, mas ele não respondeu às perguntas enviadas por e-mail pela reportagem.
Maria Helena Ortolan, diretora do Museu Amazônico, responsável pela guarda do acervo do Projeto Amazônia Central, disse que a Ufam cedeu o terreno para a construção do prédio, mas a Petrobras atrasou o convênio.

"A Ufam honrou com sua parte, a Petrobras justificou que o orçamento estava acima do valor. É um problema de deliberação política, ficou tudo no papel", afirmou.

A Superintendência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional) no Amazonas disse que os acervos da Ufam estão sendo fiscalizados.

"Os acervos encontram-se acondicionados dentro das condições mínimas exigidas para sua segurança e preservação. Caso seja constatada irregularidade, o local de armazenamento é advertido por não ter as condições exigidas", afirmou o instituto.

 

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