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04/03/2013 - 04h50

Biólogo escreve sobre a morte na natureza

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CLAUDIA DREIFUS
DO "NEW YORK TIMES"

Bernd Heinrich passa boa parte do ano na cabana que construiu numa floresta isolada do Estado do Maine. Não há luz elétrica nem água encanada por lá -apenas uma árvore que cresce dentro da cabana.

Professor emérito de biologia na Universidade de Vermont, Heinrich, 72, vê a floresta como um laboratório onde pode estudar as transformações da natureza. Ao longo dos anos, ele traduziu suas observações em 17 livros sobre a natureza e o mundo animal, incluindo livros sobre abelhas, besouros coprófagos e gansos. Hoje, ele estuda como os animais morrem.

Seu livro "Life Everlasting: The Animal Way of Death" [A vida eterna: a morte à maneira animal] foi publicado no ano passado pela Houghton Mifflin Harcourt.

*

NYT - O que o levou a escrever sobre a morte entre os animais?
BERND HEINRICH - Comecei a pensar sobre o assunto quando Bill, um ex-aluno meu, me escreveu dizendo que estava com uma doença terminal, pedindo para ser "sepultado" a céu aberto em minha propriedade no Maine. Ele queria deixar seu corpo para os corvos.

Sua carta me levou a refletir sobre como os detritívoros purificam o mundo, de tal modo que haja espaço para novas vidas. Eu já tinha estudado os corvos e os besouros coprófagos, detritívoros que são atores-chave no processo de reciclagem natural. Posso ter sentido alguma afinidade com eles porque nós -meus pais, minha irmã e eu- fomos detritívoros no passado.

Detritívoros?
Sim. No final da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, para escapar do avanço do Exército Vermelho, minha família foi viver na floresta. Nós nos alimentávamos de detritos. Prendíamos camundongos em armadilhas. Lembro de um dia ter encontrado um javali morto, que minha irmã e eu comemos.

Mas, voltando a Bill: pensei se a ideia dele seria viável. Comecei a fazer pequenos experimentos. Expus ao ar livre animais atropelados em estradas e fiquei observando quem os procurava e como os agentes funerários da natureza decompunham as carcaças.

Você achou difícil trabalhar com animais mortos?
Uma carcaça é um cenário muito ativo. O destaque não é a morte, mas a vida. A carcaça fornece uma quantidade enorme de alimento para animais recicladores. Assim, você vê competição e vários tipos de comportamentos animais interessantes.

Muitas espécies de detritívoros estão ameaçadas de extinção. Por quê?
No caso de alguns dos detritívoros -os condores ou os abutres-, pois nós acabamos com sua base alimentar, devido à caça. Além disso, usamos veneno para matar animais como camundongos e ratos. Então as corujas e os falcões consomem esses roedores e morrem. No caso dos abutres, alguns dos medicamentos dados ao gado são tóxicos para eles. Os abutres comem gado morto, seu alimento tradicional, e então morrem. O ecossistema é muito complexo, e não sabemos o que vai acontecer se esses animais desaparecerem.

Os humanos e seus restos mortais fazem parte desse ecossistema?
Sim, mas a morte humana está sendo distanciada da natureza. Injetamos substâncias químicas poluentes em nossos mortos, que colocamos em caixas herméticas e "plantamos" em terrenos que poderiam ser usados para a agricultura. Pensamos que dessa maneira estamos negando a morte.

O que foi feito de Bill?
Ele ainda está vivo. Por sorte, aquele "sepultamento" ao ar livre ainda não foi necessário.

 

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