Preocupa que setor biotecnológico seja tão concentrado, diz chefe da Embrapa
O presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Maurício Antônio Lopes, está preocupado com a excessiva concentração do mercado brasileiro de biotecnologia.
Ele acredita em novos modelos para a venda de sementes aos produtores rurais –segundo ele, a Embrapa deve investir na produção de sementes de "código aberto", ou seja, que sejam vendidas sem a cobrança de royalties, em oposição à política das multinacionais que dominam o mercado de transgênicos no país (leia mais aqui).
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
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FOLHA - Como a Embrapa pode ajudar o país a lidar com grandes secas?
Maurício Antônio Lopes - Estamos incorporando tecnologias que vão tornar nossa agricultura mais capaz de suportar essas mudanças de disponibilidade de água.
Por exemplo: plantas com ciclos mais curtos. Uma soja que demora 150 dias entre o plantio e a colheita, por exemplo, está submetida a um risco muito maior num período tão longo, em que pode ter um evento climático que afete a produtividade.
Há tendência muito forte na agricultura de produzir com um ciclo mais curto. A gente faz isso usando melhoramento genético para incorporar essa característica às plantas. Isso já é realidade para a soja, o milho, o algodão, o feijão.
Regis Filho/Valor/Regis Filho/Valor | ||
Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa |
Produtos geneticamente modificados serão uma resposta cada vez mais presente?
Grande parte das soluções que virão vão passar por aí.
Essas novas tecnologias não acabam sendo mais restritas e caras para os produtores?
Quem faz esse trabalho de genética e melhoramento somos nós [a Embrapa] e as grandes empresas.
Com o advento da biotecnologia [que incorpora técnicas de recombinação do DNA das plantas], há uma tendência muito forte de concentração desse trabalho, caro e complexo, em poucos atores.
No passado, a gente fazia seleção [das plantas], levava a campo, testava, era um processo mais longo. A gente tinha um número maior de empresas, não demandava uma tecnologia tão cara e sofisticada. Com a introdução da biotecnologia, a gente teve uma ruptura, é uma mudança tecnológica drástica.
Preocupa a concentração?
Há sim uma preocupação pelo fato de que a gente tende a caminhar para uma realidade de poucos provedores dessas tecnologias, sendo que o melhor seria evitar o risco de concentração excessiva de poder econômico e de mercado na mão de poucas empresas.
O Brasil é muito grande, muito plural, as nossas realidades exigem uma diversidade maior de opções no mercado e é importantíssimo que o setor público de pesquisa estimule essa diversidade. Com linhas de crédito a custos menores, estímulos para novas empresas de semente, e que as sementes desenvolvidas em ambiente público fluam melhor para os agricultores.
Há alguma política em estudo?
É importante dizer que trabalhamos com todas as empresas. Não estou aqui estimulando ninguém a combater as empresas de biotecnologia. Acho que elas estão no papel delas, dão grande contribuição, fazem grande investimento em pesquisa.
Somos críticos é a uma lógica de concentração muito excessiva no mercado. O setor público pode ser elemento importante de diversificação e oferta maior de soluções. Estamos discutindo um programa neste momento de sementes de código aberto. Queremos distribuir genética a um preço muito baixo para estimular negócios.
Como será esse programa?
Queremos encontrar caminhos para tornar cada vez mais disponíveis sementes desenvolvidas em ambiente público. Muito provavelmente, sementes que a gente desenvolvia e liberava para o mercado numa lógica de código fechado, a gente vai poder passar para uma lógica de código aberto, sem cobrar royalties, apenas o custo de multiplicação da semente.
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