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Micróbio intestinal turbina inflamação e obesidade infantil
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LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um estudo com crianças europeias e africanas mostra que diferenças nas suas dietas são acompanhadas por diferenças na composição de suas floras intestinais. Isso está ligado à maior incidência de obesidade e inflamações em crianças criadas em sociedades modernas.
Cientistas colheram amostras de fezes de crianças de Florença, na Itália, e da vila de Boulpon, em Burkina Fasso (África Ocidental).
A vila africana foi escolhida por ser representativa de um modo de vida que se imagina ter existido pouco depois do surgimento da agricultura, há 10 mil anos.
A dieta das crianças em Boulpon é rica em fibras (cereais e legumes) e pobre em calorias, enquanto que a dieta das crianças florentinas é rica em calorias (açúcares, gorduras e proteína animal) e pobre em fibras.
A análise revelou a presença de 51% de bactérias do filo Firmicutes e 27% do filo Bacteroidetes em crianças italianas. A relação se inverteu nas crianças burquinenses, com 73% de Bacteroidetes e 12% de Firmicutes.
A proporção relativa desses tipos de bactérias já havia sido associada à obesidade em ratos. Roedores obesos possuíam mais Firmicutes que Bacteroidetes comparados a roedores saudáveis.
A relativa abundância de Firmicutes em crianças italianas sugere, assim, uma ligação entre flora intestinal e obesidade: crianças com mais Firmicutes em relação a Bacteroidetes estariam mais predispostas a engordar.
Por outro lado, as bactérias Bacteroidetes, predominantes em crianças africanas, produzem gorduras de cadeia curta, como o butirato, que possui propriedades anti-inflamatórias.
TRANSFORMAÇÃO
O estudo, publicado na revista "PNAS" e liderado por Carlotta de Filippo, da Universidade de Florença, também identificou uma transformação na flora intestinal.
Crianças florentinas em período de amamentação possuíam composição intestinal semelhante à das africanas da mesma idade.
Isso indica que a diferença observada nas crianças mais velhas surgiu ao longo do desenvolvimento infantil, e não devido a diferenças étnicas, sanitárias ou geográficas.
Os africanos também apresentaram maior biodiversidade e menor quantidade de bactérias potencialmente tóxicas, como E. coli e Shigella.
"Isso pode estar relacionado ao processo de aquisição de imunidade nessas crianças", diz o nutrólogo Fábio Ancona Lopez, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "A maior exposição a micróbios pelas crianças africanas pode ter ajudado seus sistemas imunes a reduzir a presença de patógenos."
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