Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/01/2011 - 10h25

Pesquisadores não especializados produzem drogas "piratas"; 6 pessoas morreram

Publicidade

GIULIANA MIRANDA
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Pesquisadores "clandestinos" estão usando informação científica publicada em revistas acadêmicas para produzir drogas piratas.

Com base em dados públicos, pesquisadores não especializados conseguem produzir e comercializar substâncias sem nenhum tipo de regulação ou testes clínicos.

Foi o que aconteceu com o químico David Nichols, da Universidade Purdue (EUA). Em 2002, seis pessoas morreram ao usar uma droga pirata produzida a partir de um composto que ele estudava.

Nichols e seus colegas publicaram entre 1992 e 1997 alguns trabalhos com base na molécula MTA (metiltioanfetamina), que tem estrutura similar à do ecstasy.

"A droga foi sintetizada por cientistas que simplesmente colocaram as substâncias em cápsulas sem conhecer os efeitos da droga em seres humanos", contou Nichols à Folha.

O caso foi publicado na última edição da revista científica "Nature".

O cientista investigava o uso da MTA para o tratamento de depressão. A molécula, sabe-se, inibe uma enzima que age no sistema nervoso.

"Publicamos os nossos resultados sem a expectativa de que as substâncias fossem vendidas para seres humanos", disse Nichols.

POLÊMICA

O debate sobre a divulgação dos trabalhos científicos é antigo. O caso de Nichols, porém, traz uma nova perspectiva para a discussão.

"Nos últimos anos, a ala que defende a divulgação ampla tem vencido. A maioria das revistas científicas, inclusive, exige o detalhamento de todo o experimento", explica Alessandro Piolli, que estuda ética de publicação no seu doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

De acordo com Piolli, o grupo que tradicionalmente é contra a divulgação costuma estar ligado à indústria farmacêutica e tem interesse no sigilo das informações.

"O DNA de vírus perigosos já foi publicado. Nós [cientistas] acreditamos que as pessoas não vão usar essas informações para seus próprios interesses", diz Nichols.

O pesquisador destaca ainda que algumas substâncias utilizadas como entorpecentes podem ser usadas com fins terapêuticos.

O ecstasy, por exemplo, foi testado recentemente com sucesso por cientistas dos EUA em casos de transtorno pós-traumático.

"Tudo pode ser usado tanto para causas boas quanto más", conclui Nichols.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página