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28/08/2011 - 06h30

Instituto Seti volta a buscar ETs com nova doação; Folha visita sede

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FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A MOUNTAIN VIEW

Cartazes com fotos de satélites, nebulosas e naves espaciais recebem o visitante que chega ao prédio de dois andares do Instituto Seti, na pacata Mountain View, cidade-sede de diversas empresas de tecnologia no vale do Silício, norte da Califórnia.

Réplicas de discos voadores e bonequinhos de alienígenas ficam discretos nas prateleiras de alguns cientistas do instituto, uma organização privada sem fins lucrativos que, desde 1984, busca sinais de vida inteligente fora da Terra.

"Há uma boa chance de haver vida lá fora. Se eu não acreditasse nisso, atravessaria a rua e dobraria meu salário trabalhando para alguma dessas firmas tecnológicas", diz Seth Shostak, astrônomo-sênior do grupo, que tem uma placa da Área 51 pendurada em seu escritório abarrotado de livros técnicos. "Isto é uma opinião, não é ciência. Mas ciência funciona assim. Se você não tiver a crença, não é motivado para ir atrás dos dados, das provas. É isso o que fazemos."

Vídeo

A principal arma de pesquisa do Seti é um conjunto de 42 antenas instaladas num observatório do extremo norte do Estado, chamadas de Conjunto de Telescópios Allen, em homenagem a Paul Allen, cofundador da Microsoft e doador de US$ 25 milhões para o projeto de US$ 50 milhões.

O complexo começou a funcionar em 2007 em parceria com a Universidade da Califórnia em Berkeley, que conduzia experimentos científicos paralelos aos de busca de sinais extraterrenos. Porém, com o corte no orçamento, a UC foi obrigada a se retirar, e as antenas foram desligadas em abril.

Neste mês, doadores particulares deram ao Seti cerca de US$ 200 mil para colocar as antenas de volta em ação, ainda que apenas só até o final do ano. Entre os doadores estava a atriz Jodie Foster, que no filme "Contato" (1997) faz o papel de uma cientista inspirada em Jill Tarter, uma das fundadoras do Seti e pioneira da astrobiologia, um ramo científico de estudo da vida no universo.

"Será um desafio ano a ano para conseguir dinheiro para manter o conjunto", disse Tom Pierson, diretor administrativo do Seti, numa ampla sala decorada com um globo de metal e uma foto da Terra tirada da Lua. "Mas temos outros fundos a caminho, como um trabalho que faremos para a Força Aérea. Estamos procurando outros contratos como este."

Segundo Pierson, as antenas vão ajudar o governo a coletar dados sobre satélites e detritos orbitais numa missão não militar para evitar colisões no espaço. Por serem radiotelescópios, os instrumentos do Seti funcionam 24h e mesmo com chuva, ao contrário dos tradicionais ópticos, mais sensíveis porém "cegos" durante o dia e chuvas.

Além de Paul Allen, outras empresas de prestígio, como Google, Dell, Intel e Hewlett Packard, também já colaboraram com o centro que, em quase três décadas, já recebeu mais de US$ 250 milhões em subsídios de pesquisa vindos de instituições como a Nasa e a Fundação Nacional de Ciência dos EUA.

A maioria de suas pesquisas começa na Terra antes de chegar ao espaço, como a exploração de um lago congelado no Ártico em busca de vida em ambientes extremos. "Isto nos conta como a vida pode evoluir de forma bastante ampla e nos dá ideias de experimentos a serem feitos pela Nasa em futuras missões em Marte, por exemplo", disse Pierson.

Na sede do instituto, trabalham cerca de 140 funcionários, boa parte cientistas dedicados a astrobiologia e apenas meia dúzia focada nos telescópios, já que o grosso do trabalho é feito por computadores. Há também educadores que desenvolvem currículo científico e um centro de pesquisas chamado Carl Sagan (1934-1996), antigo membro do comitê do Seti.

O nome "seti" também é a sigla em inglês para "busca por inteligência extraterrestre", usada pela comunidade para a atividade de analisar ondas eletromagnéticas, já que estas seriam a forma de transmissão mais rápida conhecida.

A conexão do instituto com parceiros ilustres do vale do Silício, a seriedade das pesquisas e o fluxo de dinheiro fazem com que o Seti se diferencie dos tradicionais caçadores de alienígenas.

"Procuramos por evidências de vida no espaço profundo. Não examinamos cadáveres de aliens ou sei lá o quê", disse Pierson. "Por causa da curiosidade natural, estaríamos interessados se fosse uma evidência real. Mas nunca apareceu nada concreto."

Desde que o instituto começou a fazer suas "escutas" do universo, com telescópios emprestados ao redor do mundo, apenas uma vez se chegou perto de captar um "sinal bom". Era 1997, e a empolgação durou 18 horas, até se comprovar ser uma interferência mal captada da Agência Espacial Europeia.

"Ficamos bastante animados, ninguém foi para casa dormir, o coração batendo forte", lembra Pierson.

Seu colega Shostak foi mais cético. "Fiquei confuso, na verdade. Minha primeira reação foi: 'Isto vai arruinar minha semana!'. É preciso ser realista, sabe?", disse o astrônomo, que recebe entre cinco a dez ligações por dia relacionadas a "informações secretas" sobre ETs, muitas vindas da América do Sul.

Mas o falso alarme serviu para provar que seria impossível manter uma descoberta em sigilo. Em duas horas de testes, o jornal "New York Times" já ligava para confirmar os rumores.

"As pessoas acreditam muito em conspirações, de que o governo fecharia tudo e manteria segredo", disse Shostak. "O governo mostrou algum interesse em 1997? Nada! A única pessoa que nos ligou foi um jornalista."

 

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