É jornalista gastronômica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Barracas de imigrantes promovem volta ao mundo culinária no Rio
Há cerca de um ano, a nigeriana Latifah Hassan fugiu para o Rio e abrigou-se em uma igreja com a filha pequena depois que terroristas mataram seu marido e seu filho.
Hoje, ganha a vida vendendo comida na rua do Catete, sabores fiéis à pátria que ela teve que abandonar. "Todo mundo ama meu arroz frito", diz, abrindo sorrisão largo. Ela faz um delicioso refogado de feijão com banana, bolinho vegetariano. Todo dia o menu muda.
A Olimpíada transformou o Rio em um surreal caleidoscópio vivo de cores e caras. Cada país quer exibir o melhor de si tanto nas arenas como fora.
Muitos montaram "casas" que funcionam como showrooms de suas culturas. A da Suíça tem rinque de patinação, a de Portugal instalou-se em uma nau e por aí vai. Cada uma, claro, apresenta suas comidas típicas.
Mesmo sem pisar em casas olímpicas (algumas são abertas ao público), tenho feito uma volta ao mundo culinária desde que cheguei ao Rio, na semana passada.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Turistas tiram fotos nos arcos olímpicos; Olimpíada transformou o Rio em caleidoscópio de cores |
Apaixonei-me pelo croquete de carne do Bar Ernesto, fundado em 1949 pelo alemão Ernst Kehler, fugido do nazismo. Espantoso o quão fiel às origens permanece o menu (joelho de porco com chucrute!).
Influência estrangeira à mesa sempre houve no Rio. Acalmei minha tosse com um udon à moda tradicional no antiguinho Azumi, em Copacabana.
Decepcionei-me com quibe e coalhada no El Gebal, um de tantos restaurantes antigos fundados por imigrantes libaneses.
Mas o caldeirão étnico anda mais temperado do que nunca.
Aos portugueses, alemães e árabes da velha guarda agregam-se barracas e restaurantes de imigrantes cada vez mais numerosos (inclusive refugiados, principalmente sírios e africanos).
Com a dificuldade de conseguir emprego, eles ganham a vida cozinhando. E também enriquecem a cena gastronômica da cidade, cada vez mais multicultural.
Os novos cariocas que vendem delícias exóticas em barraquinhas e feiras vêm, encantam e ficam, enriquecendo o Rio até mais do que o pot-pourri étnico das casas olímpicas -que faz muita vista mas é efêmero.
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