Alexandre Vidal Porto

Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).

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Os maconheiros estão por perto

Você já reparou que quase todas as bancas de jornal da cidade de São Paulo vendem papel de seda para enrolar cigarro? Caso não tenha visto, dê uma olhada perto dos isqueiros. Ficam em caixinhas e tem de várias marcas: Smoking Blue, Smoking Master, Rizla, A Leda. Pergunte ao seu jornaleiro se vende bem. Ele provavelmente dirá que sim.

Na maioria das vezes, esse papel não enrolará tabaco. Servirá para enrolar maconha, cujo consumo –medicinal, religioso ou recreativo– foi observado ao longo da história nas culturas mais díspares, em todos os continentes: do norte da Europa à Patagônia, passando por Índia, África, Oceania. O primeiro registro conhecido do uso da maconha por humanos foi feito na China, há quase 3.000 anos.

Mesmo que você nunca tenha visto nada ou sentido cheiro algum, não se engane: os maconheiros estão por perto.

Nos EUA, cerca de 10% da população acima de 12 anos consumiu maconha ou derivados no ano passado. Segundo a ONU, em termos globais, cerca de 180 milhões de pessoas consumiram a substância em 2011.

Apesar dos riscos legais e de saúde envolvidos, uma parcela da população global sempre fará uso da maconha e seus derivados. É um dado histórico. Como no caso do consumo de álcool e do tabaco, parte dessas pessoas desenvolverá dependência. A maioria, não.

Se houvesse um país dos maconheiros, ele teria a sétima população do planeta.

Para efeitos de comparação:

Salgueiro, Pernambuco, localizada no chamado "Polígono da Maconha", no vale do rio São Francisco, entre Bahia e Pernambuco. 40% da maconha consumida no Brasil é produzida na região por agricultura familiar de subsistência.

O agricultor submete-se aos traficantes e recebe cerca de R$ 150 por um quilo de maconha que chegará a custar dez vezes mais ao consumidor. No final dos anos 90, 3 das 10 cidades brasileiras com maior número de homicídios estavam na região.

Colorado, EUA, um dos cinco Estados americanos em que o uso recreativo da droga foi legalizado, no começo de 2014. No último mês de junho, as vendas de maconha para fins recreativos chegaram a US$ 50 milhões, dos quais US$ 13,3 milhões destinaram-se, por lei, à rede de escolas públicas e a programas de educação contra o abuso de substâncias.

A maconha é vendida em shopping centers, e sua comercialização gerou a criação de 10 mil empregos formais no Estado. Desde a legalização, a taxa de crimes violentos baixou cerca de 2,2%, e a de roubos, 9%.

Esqueci de dizer: Quem fumava maconha –lá e cá– continuou fumando. Pode perguntar ao jornaleiro, que ele sabe.

P.S.: O colunista estará em férias até 5 de janeiro.

twitter: @vidalporto
instagram: @alexvidalporto

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