Escritor e diplomata, mestre em direito (Harvard). Serviu na missão na ONU e no Chile, EUA, México e Japão. É autor de "Sergio Y. vai à América" (Cia das Letras).
Não precisamos ser os melhores do mundo
Diálogo autêntico colhido no Facebook de um amigo:
"O Brasil continua a ser o melhor país do mundo."
"Melhor país do mundo? Tá precisando viajar mais, compadre."
O escritor francês Gustave Flaubert dizia que viajar nos faz modestos, porque, viajando, nos damos conta do quão pequeno é o lugar que ocupamos no mundo.
Essa observação é especialmente útil para os brasileiros.
Perdemos a noção da nossa imagem internacional. No passado recente, enchíamos o peito para falar de quinta economia do planeta, dos aviões e de toda a soja que exportávamos, do pleno emprego, dos 20 milhões resgatados da pobreza.
Vínhamos de dois presidentes respeitados mundialmente. Teríamos uma mulher na chefia do Estado. Nossos problemas pareciam resolvidos. O Brasil tinha encontrado seu estilo.
Finalmente, recebíamos justiça. Dormimos pobres e acordamos ricos. Até que foi fácil. Deus era brasileiro mesmo, viu o pré-sal?
Mas, do jeito que enricamos, perdemos tudo. O que vem fácil vai fácil. Deixamos de ser sucesso internacional. Hoje, o risco país do Brasil é mais alto que o da Argentina. Estamos em recessão.
Nas conversas com estrangeiros, temos de explicar o inexplicável.
Que era tudo uma mentira, que entramos em um processo de alucinação coletiva, um esquema de aparelhamento do Estado de proporções inimagináveis orquestrado pelo governo contra o povo.
A conjuntura internacional já não nos favorece. O valor de mercado da Petrobras é inferior ao do Uber, e todas –eu disse TODAS– as empresas brasileiras na Bolsa de Valores, somadas, não chegam ao valor do Google. A inflação e o desemprego crescem.
Ainda assim, nosso governo segue com um discurso arrogante, sem contato com a realidade. A culpa é da crise internacional. A situação não é tão má assim. 2016 vai ser melhor. Só que não vai.
Precisávamos de um líder que nos mostrasse a realidade como ela é e nos congregasse como nação.
Em lugar disso, temos uma antigovernante, uma destruidora de alianças, uma personalidade belicosa. Já notou o ódio que destila de seu olhar?
No governo Dilma, entre tantas outras coisas, perdemos o espírito de nacionalidade: no Brasil, hoje, somos coxinhas contra hipsters; pseudopolitizados de esquerda e de direita contra a elite alienada e a massa ignara; todos disputando o espaço social.
Somos a Pátria Educadora da presidente que mentiu sobre a própria educação.
O meu desejo para 2016 é que o Brasil deixe de achar que é o melhor país do mundo, porque não é.
Precisamos de humildade e autocrítica para reconhecer e enfrentar nossos problemas. Não faltam estatísticas deprimentes para indicá-los.
Não dá para fingir que somos uma coisa que não somos. O governo tem de parar de fazer propaganda enganosa.
Não precisamos ser os melhores do mundo em nada. Basta que sejamos bons.
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