Trabalha como jornalista desde 1988. Em redações de jornais e revistas cariocas, foi repórter, redator, editor, colunista. Escreve às terças.
Clássico com torcida única significa o fim do futebol no Rio
Marcello Dias/Futura Press/Folhapress | ||
Briga das torcidas de Botafogo e Flamengo antes de partida no Engenhão |
RIO DE JANEIRO - O dia 10 de dezembro de 1967 se tornaria inesquecível para o menino. Foi quando ele conheceu o Maracanã. Não lembra se entrou pelo Bellini ou pela Uerj, mas recorda o frio na barriga. E o impacto da visão multicolorida: o verde do gramado contrastando com o azul das cadeiras; as bandeiras do Botafogo e do Fluminense (estas, envoltas em nuvens de pó-de-arroz).
Depois veio o som do alarido e da batucada, e o gosto do cachorro-quente Geneal, o melhor que já comeu. Pai e filho estavam no meio da arquibancada, o espaço das famílias, com torcida mista e sem brigas. O melhor lugar para assistir ao jogo, quando o sol do verão baixava. Com 88.571 pessoas no estádio, o menino virou para o pai e disse, apontando para o lado do Botafogo: "É aquele". O pai tricolor não gostou. Mas deixou passar.
A escalação do time, ele até hoje sabe de cor: Manga, Paulistinha, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César Lima. Os gols, revê sempre no filme do Canal 100: Samarone, o Diabo Louro —o primeiro gol que viu na vida!— e Roberto Miranda. 1 a 1. Pai e filho voltaram felizes para casa.
Estive no Maracanã zilhões de outras vezes, como repórter e sobretudo como torcedor. Pois, na semana passada, a Justiça do Rio acatou o pedido do Ministério Público de instaurar a torcida única nos clássicos. Uma briga entre facções organizadas do Botafogo e do Flamengo, que teve transmissão ao vivo e terminou com a morte de um botafoguense na ponta de um espeto de churrasco, motivou a decisão. Triste futebol carioca.
Já não tínhamos estádio (jamais esqueça que o ex-governador Sérgio Cabral destruiu o Maracanã). Agora não temos torcida adversária. Num futuro próximo, perguntaremos como a grã-fina das narinas de cadáver: "Quem é a bola?".
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade