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Como é viver numa cidade sob ameaça terrorista?

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Crédito: Boris Vergara/Xinhua Policial armado faz segurança da 10 Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro britânico
Policial armado faz segurança da 10 Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro britânico

Toda vez que visito o Brasil, enfrento sempre a mesma pergunta: 'como você consegue viver numa cidade sob ameaça de ataque terrorista? Você não tem medo?'

A curiosidade e a preocupação, de fato, têm algum fundamento.

O ano passado foi o mais violento em termos de terrorismo no Reino Unido desde 2005. Nada menos do que cinco ataques aconteceram no país em 2017, quatro deles em Londres. No total, 35 vítimas inocentes morreram nas atrocidades.

O serviço de inteligência interno do Reino Unido, o MI5, informou ainda que outros nove potenciais ataques foram desmantelados pela polícia. No total, cerca de 400 pessoas foram presas no país por alguma suspeita de envolvimento com essas ações.

No momento em que escrevo, o site do mesmo MI5 informa que as forças de segurança consideram que o país está num nível "severo" de ameaça. Isso significa que o governo acredita que um novo ataque é altamente provável.

Parece assustador. Mas as pessoas continuam tocando suas vidas normalmente, usando transporte público, indo a shows, jogos de futebol e outras manifestações.

Na verdade, o Reino Unido convive com esse "nível severo" desde 2012 –o que revela mais do que nada que as forças de segurança estão de prontidão para responder a qualquer incidente real, se necessário.

Ao rever as estatísticas, o leitor pode imaginar que a população de Londres está à beira de um ataque de pânico. Alguns podem acreditar que os londrinos estão sempre olhando sobre o ombro, com medo, observando os movimentos do sujeito ao lado em qualquer aglomeração pública. Minha família e parte dos meus amigos vão me pedir, de novo, que eu evite andar no metrô da cidade...

Mas a coisa não é bem assim, muito pelo contrário. Londres continua sendo uma das cidades mais vibrantes do mundo, recebendo números recordes de turistas e acomodando gente pacífica de todos os cantos do planeta.

O dia-a-dia na cidade continua normal, com os londrinos parecendo querer mostrar que os ataques não vão intimidá-los. Esse é meio caminho andado para se manter a tranquilidade e a sensação de segurança, que aqui é maior do que em boa parte das capitais do mundo –e, de longe, muito maior do que em qualquer grande cidade brasileira.

Se alguns números assustam, outros comprovam que Londres é bastante segura. Segundo dados da Metropolitan Police, a capital britânica registrou 130 homicídios em 2017 (uma taxa de 1,5 homicídio por 100 mil habitantes).

Incomparável com os números de verdadeira guerra civil nas grandes cidades brasileiras. Conforme dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa média nacional de mortes violentas foi de 29,9 assassinatos por 100 mil habitantes em 2016. Nada menos do que 61.619 pessoas foram assassinadas naquele ano no Brasil. Esta sim, uma estatística de arrepiar.

Dois fatores em especial contribuem para a segurança em Londres e contrastam claramente com a realidade em várias partes do Brasil.

Em primeiro lugar, aqui as pessoas ocupam os espaços públicos. Ruas e praças estão cheias a qualquer hora do dia e da noite, o que diminui riscos e amplia essa sensação de segurança.

Além disso, a polícia é bem treinada e faz seu trabalho de forma presente e visível em todos os bairros. Melhor ainda: as forças de segurança em geral reagem muito rápido às emergências. Podem não resolver tudo, mas ajudam a derrubar as estatísticas de crime violento.

Em resumo, como os professores chegam a ensinar às crianças da cidade, as chances de alguém morrer num ataque terrorista são menores do que num acidente de carro em Londres. Não é preciso apresentar estatísticas de trânsito para provar que a coisa, de novo, é muito pior no Brasil.

Por isso, continuo achando muito mais seguro circular de metrô por aqui do que pegar um táxi à noite no Brasil. Na minha última experiência do tipo, em São Paulo, com as ruas totalmente desertas por volta das 21h30, achei que seria assaltado no primeiro semáforo vermelho. Não pude deixar de comentar com o motorista: 'como a gente consegue viver assim, com constante medo da violência nesta cidade?'

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