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andré barcinski

 

01/08/2012 - 06h07

Quem manda fazer sucesso?

Numa quinta-feira dessas, me vi em Copacabana, bem na hora do almoço. Lembrei que quinta era dia de rabada com agrião no Pavão Azul (r. Hilário de Gouveia, 71,
tel. 0/xx/21/2236-2381), um dos melhores botecos cariocas.

Cheguei lá às 14h, pedi a rabada, e o garçom quase riu na minha cara: "Chegou a essa hora e quer a rabada? Já acabou faz tempo".

Fui informado de que alguns clientes chegam a encomendar a rabada no dia anterior. Encomendar rabada em botequim? Onde estamos?

Tive de me contentar com o frango com quiabo, que estava sensacional. "Deu sorte", disse o garçom. "Foi a última porção."

Logo depois, ouvi um cliente batendo boca com o garçom: "Todo dia é a mesma coisa, a gente chega aqui e a comida já acabou. Bom era quando ninguém conhecia esse lugar. Nunca mais venho aqui".

A reclamação não fazia o menor sentido. O cliente não parecia ter mais de 30 anos. Já o Pavão Azul foi inaugurado em 1957 e é famoso há décadas em Copacabana. Faça as contas: para o cliente ter conhecido o boteco antes da fama, precisaria ser bem mais velho.

A reação do cliente é normal. Muitos "foodies", nesse aspecto, se parecem com os "indies", os fãs de rock alternativo: são criaturas possessivas e exclusivistas, que acham que o resto da humanidade não merece compartilhar as suas "descobertas".

Para um "indie", aquela banda sensacional da Estônia, que ele descobriu em um compacto empoeirado num sebo em Portobello Road, é a última bolacha do pacote.

Pelo menos até outras cinco pessoas começaram a ouvi-la, quando passa a não prestar mais. Muitos "foodies" também são assim: gostam de uma coisa até que outros a descubram.

Concordo que muitos restaurantes mudam depois da fama, aumentando preços, diminuindo as porções e tratando pior os clientes. Mas deixar de saborear o frango com quiabo do Pavão Azul porque faz sucesso me parece masoquismo.

O negócio é chegar cedo. Ou reservar a rabada com antecedência.

andré barcinski

André Barcinski é crítico da "Ilustrada" e diretor e produtor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil. Escreve às quartas, a cada duas semanas, na versão impressa do caderno "Comida".

 

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