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andré conti

 

21/01/2013 - 03h30

Opiniões desconjuntadas e histeria adolescente dominam a crítica de games

No mês passado, a revista "Nintendo Power" publicou seu último número, depois de 222 edições. Há pelo menos dez anos as revistas de videogame perderam totalmente a importância, mas não deixa de ser um marco. Antes da internet, elas eram a única fonte de informação sobre lançamentos e rumores e um depositário de dicas, truques e guias. Quem pegou a saudosa "Ação Games" sabe do que estou falando.

Com os sites especializados cobrindo as notícias com agilidade, algumas revistas apostaram em análises mais longas para sobreviver. Por conta disso, ainda fazia sentido assinar, por exemplo, a "PC Gamer UK", que dedicava páginas e páginas a um jogo em suas resenhas minuciosas.

Alpino

No fim, sobreviveram as publicações de nicho (como a excelente "Retro Gamer"), mas o grosso da crítica migrou para sites e blogs.

Crítica é modo de falar. O que se tem é muita opinião desconjuntada, press releases mal disfarçados e uma forte dose de histeria adolescente. Ninguém aceita e reproduz tão bem uma campanha de marketing quanto os grandes sites de jogos, como "Gamespot" e "IGN".

O problema é que a crítica de jogos, no sentido mais clássico, é relativamente recente (o ótimo livro "Extra Lives", de Tom Bissell, é de 2010, por exemplo). Não há parâmetros, apenas hordas de jogadores com graduação em jornalismo e muita opinião para dar.

Ocorre que, ao contrário da crítica literária, por exemplo, a crítica de jogos ainda é determinante para as vendas de uma produtora. Blogs e sites criados por amigos há dez anos hoje detêm um poder enorme sobre o mercado. Raras vezes esse crescimento em importância significou aumento de qualidade.

A resenha de jogos virou terreno dos especialistas, sempre sob um verniz técnico. O "IGN", por exemplo, até recentemente dava sua nota ao jogo a partir de uma média entre a qualidade do som, dos gráficos, da jogabilidade etc.

Que os jogos recebam notas já diz muito sobre a qualidade das resenhas. Dividi-los em aspectos técnicos é o mesmo que avaliar um filme por seus movimentos de câmera e engenharia de som, como se houvesse um conhecimento científico que suplantasse uma análise "leiga", em termos mais gerais.

Claro que jogos não são filmes. É preciso dizer ao leitor não apenas do que se trata aquele título mas também como ele é jogado. Ao contrário do cinema, cada gênero tem mecânicas próprias, mecânicas que também vão variar de jogo para jogo dentro de um mesmo gênero.

Talvez o site que tenha chegado mais perto da resenha livre do ranço técnico seja o "Rock, Paper, Shot- gun", um blog especializado em jogos para computadores. Os críticos do "RPS" tratam o jogo como uma coisa única: gráficos, mecânicas, bossas formais e pompas tecnológicas não interessam isoladamente e são mencionadas apenas no contexto da experiência do jogador.

Mas o cenário não é tão tenebroso. A invasão independente dos últimos anos forçou resenhistas a encarar jogos com gráficos rudimentares e pouca duração (um dos grandes crimes na mentalidade custo/benefício). Conforme o cenário se tornar menos homogêneo, a crítica deve melhorar. Ou, pelo menos, parar com as notas.

andré conti

André Conti, formado em jornalismo, é editor na Companhia das Letras. Sua coluna mistura coisas antigas e jogos velhos com novidades e curiosidades da tecnologia. Escreve às segundas, a cada duas semanas, na versão impressa do caderno "Tec".

 

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