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andré singer

 

24/11/2012 - 03h30

O lugar da diferença

Para quem julga a política pela aparência, é recorrente a impressão de que os dois partidos dominantes, PT e PSDB, tornaram-se quase a mesma coisa. Com o PMDB aliado ora a um ora a outro, reforça-se o sentimento de geleia geral. Mas basta olhar para a economia, em que com frequência opções relevantes são tomadas, e se verifica o contrário.

Daqui em diante, o cruzamento de duas tendências de médio prazo tornará a distinção ainda mais nítida. A continuidade da crise mundial dificulta, no Brasil, a mera reprodução do modelo que deu certo entre 2004 e 2010. Em segundo lugar, passados os pleitos municipais, entra-se na fase ascendente do ciclo eleitoral para presidente da República.

A partir de agora, os tambores partidários fazem outra marcação. Um PIB fraco em 2013 pode atrapalhar os planos situacionistas. No segundo semestre de 2014, quando a campanha presidencial estiver em curso, o ritmo do PIB precisa girar rápido, o que implica ter começado a acelerar bem antes.

Para se ter noção de como os estímulos demoram a surtir efeito, nos últimos 15 meses o governo viu-se obrigado a mexer em pontos sensíveis do mecanismo -juros, câmbio e gasto público- para que apenas poucas semanas atrás os números começassem a reagir.

Desde agosto de 2011, quando o Banco Central começou a reduzir a Selic à revelia do mercado, críticos da oposição alertam para o perigo inflacionário. De lá para cá, a pressão da presidente sobre os bancos privados para a diminuição do "spread", a desvalorização da moeda brasileira e o aumento do dispêndio estatal elevaram a temperatura das objeções.

A sugestão de que o trinômio sagrado do liberalismo -metas de inflação, superavit primário e câmbio flutuante- está sendo desmontado por Dilma é estimulada por vozes conservadoras, pois seria o modo de tentar carimbá-la, adiante, como aquela que destruiu o Plano Real.

Na realidade, embora não corresponda a uma troca de modelo, há mudanças em curso. A disputa presente é sobre que grau a inflexão vai atingir. Para que lado penderá o braço de ferro com a finança privada, que até agora cedeu pouco? Será possível desvalorizar a moeda a ponto de a indústria brasileira se tornar competitiva? Terão as obras do PAC o dinheiro que precisam para deslanchar?

Por trás da pauta "técnica" há interesses que dividem a sociedade, cortam os partidos e continuam a influenciar o jogo do poder. Quem não quiser ficar alheio a ele, deveria prestar atenção ao lugar em que as diferenças entre os contendores se expressam.

ANDRÉ SINGER escreve aos sábados nesta coluna.
avsinger@usp.br

andré singer

André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

 

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