É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Escreve aos sábados.
Amargo regresso
Alan Marques/ Folhapress | ||
O presidente interino, Michel Temer, recebe o novo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia |
A ascensão do Democratas à presidência da Câmara dos Deputados na madrugada da quinta-feira passada (14) representa mais um passo no retorno da política brasileira ao que ela tantas vezes foi: condução oligárquica da modernização conservadora. Daí Rodrigo Maia combinar tão bem com o governo Temer. A coalizão vitoriosa trata de expurgar, de uma parte, os excessos arrivistas representados por Eduardo Cunha e, de outra, a incorporação das massas empreendida pelo lulismo.
É sintomático que o velho Partido da Frente Liberal (PFL), atual DEM, tenha voltado ao centro do jogo. Herdeiros da antiga Arena de 1965, e, por sua via, da UDN e do PSD de 1945, os ex-pefelistas mantiveram-se firmes, ainda que ao preço da quase extinção, em nunca se aliar ao PT. Sabiam que, mesmo eivada de contradições, a perspectiva lulista colocava em xeque o mandonismo aristocrático que eles representavam.
O fato de Maia ter sido apoiado na eleição desta semana por segmentos do PT mostra a enorme dificuldade de orientação das forças progressistas nesta conjuntura. Em lugar de se esforçar por unir os segmentos anti-impeachment, os petistas deixaram a esquerda sem voz. Optaram por manobras à meia luz, despolitizando disputa crucial.
Numa hipotética soma de votos, Marcelo Castro (PMDB-PI), Luiza Erundina (PSOL-SP) e Orlando Silva (PC do B-SP) ficariam dois sufrágios acima de Rogério Rosso (PSD-DF) (108 contra 106). Isto é, unidos poderiam almejar o segundo turno. Seria maneira de mostrar as verdadeiras opções em pauta.
De um lado, estariam os que rejeitam o golpe parlamentar, de outro, os que insistem em consumá-lo. Dividida, a oposição a Temer permitiu que a luta decisiva ocorresse entre duas alas golpistas. Ao apoiar uma delas, confunde a mobilização das ruas contra a deposição injusta da presidente legal.
É evidente que toda a opinião pública aplaude a derrocada de Cunha. Mas se era para formar frente de salvação contra mal maior, os termos de composição teriam que ser negociados entre os partícipes da mesma. Do modo como foi conduzida, pautas liberais como a PEC 241 (teto dos gastos públicos), reforma da Previdência e liberação do pré-sal, entre outras, parecem consensuais, o que estão longe de ser.
O novo presidente da Câmara, cujo perfil sociológico tucano tem a cara dos tempos vigentes, está agora livre para consumar a liberalização. A sua escolha amalgama o bloco sócio-político que deverá dirigir o país nos próximos anos. As chances de reverter o impedimento no Senado esmaeceram, junto com a presença institucional da esquerda.
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Paro um pouco. Volto em 6/8.
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