É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Escreve aos sábados.
Pesquisa revela uma nova polarização
O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro, previsto para a próxima quarta-feira (10), se dará sob novo tipo de polarização. A pesquisa Datafolha do último domingo (30) revela que os eleitores de menor renda tendem a voltar ao lulismo, conforme se poderia esperar, só que os mais ricos agora não se mobilizam pelo PSDB.
É isso o que mostram os dados relativos ao primeiro turno de 2018. No cenário principal, apenas dois candidatos cresceram: Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O primeiro, cinco pontos percentuais; o segundo, seis. Os outros supostos postulantes (Marina, Aécio, Ciro, Temer, Luciana, Caiado e Eduardo Jorge), grosso modo, permaneceram como estavam.
Tendo em vista a margem de erro (dois para mais e dois para menos), poder-se-ia até dizer que, no conjunto, o levantamento traz pouca novidade. No entanto, olhando mais de perto, observa-se uma diferença importante, em torno de 20 pontos percentuais, entre os que se inclinam por Lula quando se compara o campo dos mais pobres com o dos mais ricos, o mesmo ocorrendo com Bolsonaro no sentido inverso.
Isso mostra que, enquanto de um lado os mais pobres se inclinam por Lula, de outro cresce bastante a simpatia dos mais ricos por Bolsonaro. A intenção de voto no líder do PT passou de 30% para 39%, de dezembro para cá, entre os eleitores cujo ingresso familiar mensal é de até dois salários mínimos. O pré-candidato da extrema-direita, por sua vez, subiu nada menos que 16 pontos percentuais, no mesmo período, na faixa dos que recebem acima de 10 salários mínimos familiares mensais.
Dos entrevistados mais ricos, nada menos que 28% declaram hoje a intenção de sufragar Bolsonaro. O ódio a Lula e ao PT levou parte expressiva dos estratos intermediários a posições radicais. Os manifestantes que se confrontarão nas ruas de Curitiba daqui quatro dias representam uma cisão de contornos desconhecidos no Brasil, cujos desdobramentos ainda se farão sentir.
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