É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Escreve aos sábados.
Cenas brasileiras mostram disputa profunda
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) durante sessão plenária do Senado Federal, em Brasília |
Cena um. Quarta-feira, 29/11. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) tem assento no corredor do avião de Brasília a São Paulo. O vídeo o mostra quando é abordado pela autora da filmagem com celular : "Excelentíssimo senador, tudo bem?"
Em seguida, ela avisa aos passageiros: "Gente, o Romero Jucá, do grande acordo nacional, com Supremo, com tudo". A cidadã refere-se ao diálogo gravado em março de 2016, no qual Jucá dizia que era preciso fazer um acordo para tirar Dilma Rousseff de modo a "estancar a sangria" da Lava Jato.
Jucá senta e, com um meio sorriso, começa a repetir: "Você deve ser petista, né? Você deve ser petista, né?". A interlocutora retruca: "Não, para ser honesta não é preciso ser petista (...). Mas como o senhor é especialista em acordo nacional, eu queria lhe fazer uma pergunta".
Aí o sorriso desaparece e Jucá dá um tapa no celular da "entrevistadora". A imagem treme, mas a perguntadora fica firme: "Olha, não me agride". O senador senta. A interrogante pede explicações sobre os acordos para as reformas da Previdência e trabalhista, concluindo: "O senhor conseguiu safar os seus amigos canalhas? Vai acabar o seu sossego. Vai ter que viajar de jatinho".
Cena dois. Quinta, 30/11. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) acaba de participar de uma sessão da CPI da JBS em que prestou depoimento o advogado Rodrigo Tacla Duran. O depoente é portador de acusações a um amigo de Sergio Moro, respingando no juiz.
O vídeo mostra o parlamentar quando é abordado por uma mulher num corredor do Congresso. A protagonista diz: "O senhor pode responder a uma pergunta da gente?". O deputado se afasta, mas depois volta, também com um meio sorriso.
A entrevistadora quer saber se o parlamentar, ao interrogar Duran, queria comprometer a imagem do magistrado paranaense. "O senhor tem medo do juiz Sergio Moro, né deputado? Quando o senhor perder o foro privilegiado, ano que vem, o senhor vai ter um encontro bem gostoso com ele", diz a mulher em tom provocativo.
Pimenta manda a interlocutora ir trabalhar. A "repórter" diz que está trabalhando e acrescenta: "Diferente de vocês que estão roubando". O deputado perde a paciência e chama a Polícia Legislativa.
A mulher insiste: "Vocês do PT não estão roubando?" O policial leva a representante do "Nas Ruas" para a delegacia no subsolo do Senado, onde ela presta esclarecimentos e é liberada.
A personagem que interroga Jucá é de esquerda; a que aborda Pimenta, de direita. Uma disputa profunda se instalou na sociedade brasileira pós-impeachment e não vai sumir tão cedo. O que se deve buscar é que o confronto se dê no campo da democracia, sem violência, da qual, infelizmente, não estamos muito longe
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