Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
de São Paulo.
Escreve às quartas-feiras.
É a hora
Não há mais como esconder fatos desagradáveis que baixaram a um nível preocupante a harmonia entre os Poderes Executivo e o Legislativo, acompanhados do aparente comportamento do Judiciário, que é o "garante" da construção da sociedade civilizada que a Constituição de 1988 prometeu a todos os cidadãos.
O Poder Executivo fez uma conversão para melhor na política econômica. Entretanto, não foi expressamente reconhecida e explicada para a necessária correção do oportunismo eleitoral que o manteve no poder. Foi, consequentemente, interpretado como uma traição aos seus eleitores.
Eleito com a afirmação de que tudo estava em ordem com a promessa de que a prodigalidade (criticada por seus opositores) era correta e tinha espaço para continuar, perdeu completamente sua credibilidade quando os resultados de 2014 revelaram o desastre: queda do PIB per capita da ordem de 0,7%; dramática redução dos investimentos; inflação represada que ajudou a destruir os setores de energia e industrial; deficit em conta corrente de US$ 105 bilhões (4,4% do PIB). E, pior do que isso, deficit fiscal de 6,2% do PIB (contra 3,1% em 2013) e aumento de 6% na relação dívida bruta/PIB, com um resultado primário negativo de 0,6% do PIB (contra um positivo de 1,8% em 2013).
Incapaz de metabolizar sua própria herança, o Executivo perdeu a iniciativa e enviou ao Congresso um razoável "ajuste fiscal", mas não conseguiu transmitir a ideia de que ele era o primeiro passo para a "volta por cima" do crescimento.
O Legislativo, por sua vez, adquiriu um novo e mais ágil protagonismo, importante para a consolidação de sua harmoniosa relação com o Executivo, fundamental para a consolidação do processo democrático. Era de se esperar, portanto, um debate sério, profundo, honesto e com senso de urgência do projeto de "ajuste fiscal" que recebeu.
Nada disso! A gigantesca "base" quantitativa do governo apoiada no seu partido, o PT, aproveitou a dramática redução de seu suporte popular para chantageá-lo com as práticas conhecidas. Desidratou o "ajuste fiscal" que foi aprovado a "fórceps". Devolveu-o na forma de um aleijão, não sem antes infestá-lo de carrapatos.
Talvez não seja verdade, mas é difícil rejeitar a hipótese de que, diante da perda de confiança da sociedade no Executivo, somada à enorme desarrumação política do Legislativo, o Judiciário tenha cometido o pecado venial do oportunismo e, por um instante, constituiu-se no sindicato de seus ilustres membros. Eles podem até ter alguma razão, mas, convenhamos, é preciso tirar da água quem está se afogando, não afundá-lo ainda mais.
Parece que é hora de apelar para a saída do velho dr. Ulysses: "Olha, vamos sentar e conversar"...
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