Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
de São Paulo.
Escreve às quartas-feiras.
Autoengano
Não é fácil entender o que a presidente Dilma fez dos seus magníficos 93% de "aprovação" (Datafolha, de abril de 2012: "ótimo/ bom", 64%, e "regular", 29%), obtidos depois do excelente comportamento da economia ao longo de 2011. No início do ano, Dilma corrigiu alguns exageros da política anticíclica conduzida por Lula em 2009 e terminou muito bem.
Toda comparação é sujeita a críticas e exige a concordância sobre uma métrica adequada. O crescimento do PIB entre 2003 e 2008 foi de 4,2% ao ano. Em 2009, ele foi de menos 0,2% e se recuperou rapidamente em 2010, quando atingiu 7,6%.
Parece, portanto, que não se fará injustiça se comparamos os resultados do crescimento médio de Lula em 2009-10 (3,7% ao ano) com o de Dilma em 2011 (3,9%).
Nas outras métricas: 1) a inflação cresceu de 5,1% para 6,5%; 2) o deficit em conta corrente/PIB ficou o mesmo (-2% do PIB); 3) houve um aumento significativo do superavit primário, que cresceu de 2,3% para 2,9% do PIB, e 4) houve uma redução da relação dívida bruta/PIB, de 51,8% para 51,3%! Parece difícil rejeitar a hipótese de que Dilma, em 2011, repetiu o final do governo Lula. Lembremos que ele terminou seu governo com uma aprovação de 96% (Datafolha, de novembro de 2010: "ótimo/ bom", 83%, e "regular", 13%).
Por maior que seja a má vontade da sociedade com Dilma, refletida na ideológica rejeição que sofre hoje, é ridículo negar que, no início de 2012, ela era fortemente apoiada pela população e recebeu um voto de confiança para que continuasse a fazer "mais do mesmo". Na nossa opinião, manter o crescimento, controlar a inflação, regular o deficit em conta corrente e sustentar superavits primários para conservar a relação dívida bruta/PIB em torno de 50%.
Isso fortaleceria nossas instituições, reduziria as incertezas e daria tranquilidade aos agentes econômicos, fatores essenciais para a redução do juro real teratológico que nos acompanha há décadas.
Infelizmente a sua leitura do sucesso foi outra.
O apoio popular a teria empoderado para fazer uma política voluntarista em busca da necessária "modicidade tarifária", sem levar em conta a realidade.
Fez dois movimentos desastrados: a partir de meados de junho de 2011, forçou uma baixa artificial da taxa de juros e, em setembro de 2012, introduziu a generosa ideia da "modicidade tarifária" no sistema energético e que quase o destruiu. Mas não ignoremos que o fez com a aprovação popular de 92% (Datafolha, de março 2013). Isso comprova o famoso teorema de Thomas: se uma situação é sentida como real, ela será real em suas consequências...
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