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barbara gancia

 

12/08/2012 - 02h30

Fome de Corvo

Desta vez, o problema foi o verbo. Turma da arquibancada que já me chamou de antiecológica e pedófila agora me pede para adicionar
antidemocrática ao currículo.

Acho que, antes de dar prosseguimento a este texto, vou sair para caçar e devorar um supersabiá, desses que comem ração de cachorro nos quintais e ganham peito estufado de chester.

...

Pronto. Saciei minha maldade por ora. Posso retornar ao texto e contar como tudo começou antes que o camburão me leve.

No episódio em que Galvão Bueno bateu boca com aquele senhor grandão na transmissão da Olimpíada, o que me intrigou foi o prurido dele com o que pudesse repercutir "nas redes sociais". Galvão Bueno ainda se abala com o que dizem?

Ilustração Alex Cerveny

Assim que se tornou noiva de Charles, a princesa Diana foi instruída a não ler mais os tablóides. Desconsiderou o conselho e deu no que deu. Pois eu fiquei com aquilo na cabeça: "Puxa, mas o Galvão ainda liga para aqueles babuínos que pulam e fazem gestos atrás do entrevistado em reportagens ao vivo". Porque o pessoal que xinga e ofende nas redes é um pouco isso, conheço bem.

Nas poucas vezes em que os cruzo, radicalizo. Estou convencida de que o palavrão está inserido no léxico por um motivo específico. Ele tem a função de bomba de dissuasão. Serve para dispersar vândalos de torcida organizada.

Uso, pouco, para lidar com a trollagem, que vem a ser o "bullying" de juntar milhares de pessoas para ofender a uma só. Você se encontra com 2.000 bocós de uma vez só atirando as mais desprezíveis ofensas na sua direção na tela do seu micro. Vale tudo.

Comigo é um fato da vida. Na primeira vez achei meio esquisito. Pensei: "A Sabesp está colocando alguma coisa na água, ainda bem que não chegou até aqui". Hoje, já nem percebo. Passo dois dias sem olhar meu "timeline" e pronto.

O estopim deste caso foi um comentário que mandei a um colega jornalista, ainda com o Galvão em mente, dizendo que não respondesse a ofensas de leitor. Mencionei algo sobre não acreditar em conversa de iguais entre leitor e colunista. É o tipo de papo que só deve haver se o colunista ou a direção do jornal (ou seja, na marra) acharem que deve. Bem, foi um Deus nos acuda. Mas eu reitero: se toda palavra tem o mesmo valor, nenhuma terá. O tuíte do Zé Mané que se protege pelo anonimato para dizer o que bem entender não pode ter o mesmo peso da reflexão de um Jânio de Freitas.

O grande democrata do Twitter ou do blog não me dá garantia nenhuma. Eu não sei há quanto tempo ele está ali, se está dizendo a verdade ou mentindo, se está a serviço de alguém ou se realmente é quem alega ser.

Está certo que sou uma pessoa superficial. Mas também é fato que 98% da humanidade tem bem menos discernimento do que eu. E é por isto que eu escrevo na Folha e eles não. O triste espetáculo de ver um bando de bonobos se balançando nas redes sociais e dali extraindo o grosso de sua informação não ofende mais ninguém. Tampouco chama atenção a manada de bovinos que se contenta em repetir citações atribuídas a Cora Coralina e Clarice Lispector para depois descobrir que foram emitidas pela Gretchen.

Vivemos a antevéspera de um flagelo comparável ao Dilúvio Universal e eu não vejo ninguém tratando de construir uma arca. Quem sabe não deva ir lá fora beber o sangue de outra ave. Acho que desta vez vou comer um corvo.

barbara gancia

Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal.

 

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