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benjamin steinbruch

 

11/09/2012 - 03h30

Produtividade

DE SÃO PAULO

"Como vai a crise?", pergunto a um empresário que encontro no avião, dono de uma cadeia de lojas italianas de confecções de luxo. "É brava", ele responde. E explica que ultimamente entram pouquíssimos italianos em suas lojas. Quem está garantindo a continuidade das vendas são os chineses e os russos.

"E os alemães? E os brasileiros?", indago. "Também são poucos", ele diz. Os russos são para mim uma surpresa, talvez porque não costumam ser facilmente identificáveis nas ruas. Mas a presença dos chineses em Roma e em outras cidades italianas é evidente. Numerosos, andam em grupos e normalmente carregam muitas sacolas de grife para seus ônibus ou vans.

O empresário, muito falante, como a maioria dos italianos, discorre sobre as mazelas de seu país e diz que a crise é geral. Conta a conversa que teve com um garçom calabrês em Milão. A renda do restaurante em que trabalha foi muito atingida pela crise e os empregados estão assustados. Os salários foram reduzidos em 25%.

Conta também a história de uma vendedora brasileira que conhece há anos por fazer compras no mercado central de Florença. Casada com um italiano, ela vive na Itália há quase dez anos. Saiu do Brasil num momento em que o país estava mal e a União Europeia ia bem.

"Mas agora as coisas se inverteram, não é mesmo?", sugere o empresário. No mês passado, a vendedora perguntou a ele se considerava viável voltar para o Brasil e abrir um pequeno negócio de alimentos importados em São Paulo, um velho sonho dela e do marido.

Ele diz ter dado uma resposta favorável à ideia da volta para o Brasil. A vendedora seria muito bem informada sobre o negócio de alimentos e bebidas italianas, como queijos, azeites e vinhos, e com essa formação terá mais oportunidades ao abrir um pequeno negócio em São Paulo do que em Florença. É o que pensa o colega empresário italiano.

Não discordo. A insegurança no emprego e o próprio desemprego, naturalmente, são a sequela visível e natural da crise que atinge a Itália e quase toda a União Europeia. O grande número de turistas, principalmente chineses, russos e outros de países pouco atingidos pela crise, não é suficiente para compensar a contração do consumo interno.

A Itália está assustada. A crise lá não é tão grave quanto na Espanha, em Portugal e na Grécia. Mas já preocupa demais os cidadãos, porque seus efeitos foram sentidos a partir do momento em que o governo adotou fortes medidas de austeridade. O quente verão europeu decepcionou o setor de turismo. Houve queda de quase 20% nas reservas de hotéis e gastos em restaurantes.

Há duas semanas, saíram dados sobre o desemprego na Itália em agosto. Não são os piores da Europa, onde Espanha e Grécia lideram por larga margem. Mas há 2,76 milhões de italianos desocupados, para uma força de trabalho total de 23 milhões. Entre os mais jovens, de 15 a 24 anos, o índice de desemprego atinge 35,5%. Ontem, saíram dados do PIB. A Itália está claramente em recessão -queda anual de produção de 2,6% no segundo trimestre.

O desafio da Itália, como de resto de qualquer outro país, é o de criar empregos. Mas, como fazer isso sem poder mexer no câmbio ou emitir papel uma vez que está amarrada à moeda única da União Europeia? Sair do euro?

Não creio ser esse o caminho. É certo que importantes propulsores da corrida à união dos países europeus, vigorosos nos anos 1950, não existem mais. O medo de uma Terceira Guerra desapareceu porque as novas gerações nem se lembram mais da Segunda. A ameaça expansionista do socialismo soviético acabou. E a Alemanha está reunificada e próspera.

Mesmo assim, penso que não há volta para o euro, especialmente para uma economia tão grande quanto a da Itália. Seria demais traumática e frustrante. Afinal, o bloco produtivo europeu, mesmo machucado pela crise, é tão importante quanto os Estados Unidos e a China. E a UE se ajusta bem ao desenho geopolítico pós-guerra fria e de ascensão do poder dos emergentes.

O que resta à Itália, portanto, é baixar custos internos e ganhar produtividade para voltar a competir no mercado externo com seus produtos industriais, alimentos e design de qualidade.

benjamin steinbruch

Benjamin Steinbruch é empresário, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Escreve às terças, a cada duas semanas.

 

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