É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
cada duas semanas.
Equilíbrio
Todos somos responsáveis pela criação do ambiente econômico do país. Temos o direito e até o dever de opinar sobre as políticas econômicas adotadas e seus reflexos na atividade.
Por exemplo, temos a obrigação de lembrar que o Brasil vem sendo recordista persistente em taxas de juros no mundo -na semana passada, a taxa básica foi elevada para 13,25% ao ano.
Isso é uma aberração num momento de queda de demanda e economia em recessão.
Só para ter uma ideia, o juro básico brasileiro é comparado com 0,1% na Alemanha, 0,3% no Japão, 0,4% na França, 1,7% no Reino Unido, 1,5% na Espanha, 3,3% na China e 7,7% na Índia.
Taxas monumentais vêm provocando a sobrevalorização do real há anos, porque propiciam a entrada de capital especulativo na economia.
Valorizado, o câmbio foi destruindo a indústria, pelo encarecimento do produto brasileiro e pela concorrência dos importados.
Em fevereiro, a queda de produção anual da indústria, de 9,1%, foi a segunda maior do mundo. Só não foi pior que a da Ucrânia (-22,5%), país em guerra.
Nossa carga tributária é uma das maiores do mundo, 36% do PIB. Só não é maior do que a de alguns países hiperdesenvolvidos que oferecem serviços públicos de Primeiro Mundo, como Dinamarca, Suécia e Bélgica.
A carga fiscal, os juros elevados e o câmbio valorizado formam um tripé fatal para a economia.
São criticáveis também os engessamentos da legislação trabalhista, que elevam os custos e solapam a competitividade das indústrias. Sem falar nos absurdos processos trabalhistas em que o empregador começa sempre perdendo e enfrenta burocracia cada vez mais ideológica e atrasada.
A criação de um ambiente econômico favorável, porém, exige que a crítica seja equilibrada. Exige reconhecer, por exemplo, que o atual momento de esforço fiscal deixa pouca margem, no curto prazo, para a redução de carga de tributos.
O desemprego cresceu de 5,9% em fevereiro para 6,2% março. É notícia preocupante. Será preciso agir rapidamente para que essa tendência não continue.
A crítica equilibrada, porém, tem de observar que o Brasil se encontra ainda num nível muito bom em comparação com países como França (10,6%), Itália (12,7%), Espanha (23,2%), África do Sul (24,3%) e até a invejada Suécia (8,0%).
O equilíbrio exige lembrar que a Petrobras publicou, enfim, seu balanço auditado e os índices de confiança do empresariado começaram a melhorar. No comércio, por exemplo, 11 dos 17 segmentos monitorados registraram aumento de confiança.
Má notícia é o encarecimento brutal do custo da energia no país para empresas e consumidores. Em compensação, é bom não esquecer que a ameaça do racionamento de energia está praticamente afastada, em parte por causa da redução da atividade e em parte porque funcionou o sistema termelétrico, montado exatamente para emergências como a atual.
A crítica equilibrada é aquela que foge dos extremos: nem ostenta otimismo ingênuo nem adota posição difamatória em relação à economia brasileira.
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