É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
cada duas semanas.
Aperto ineficaz
Desde 17 de abril de 2013, a Selic, taxa básica de juros do país, vem sendo elevada sistematicamente. Nesses 25 meses, houve 14 aumentos da taxa, até os atuais 13,25%. Quando se olha para o gráfico dessa taxa, observa-se uma linha ascendente, com o breve momento de estabilidade, em 11% ao ano, não por acaso no período pré-eleitoral de 2014.
Ao se observar em seguida o gráfico da inflação (IPCA) no mesmo período, vê-se que a taxa acumulada em doze meses fez uma pequena inflexão para baixo, de 6,5%, em maio de 2013, para 5,6%, em janeiro de 2014, e depois retomou a rota ascendente até chegar aos atuais 8,17%, em abril, taxa muito alta.
Se a elevação da taxa básica de juros tivesse funcionado da maneira como ensinam os manuais de economia, teria provocado algum impacto na redução da inflação e as duas linhas mostrariam trajetórias em sentidos contrários. Enquanto a dos juros subia, a da inflação deveria cair, com alguma defasagem de tempo. Mas isso não ocorreu.
Não tenho a pretensão de explicar por que o aperto monetário está sendo incapaz de reduzir a taxa de inflação, passados 25 meses desde o seu início. Deixo essa tarefa para os economistas.
Como empresário, que considera o crédito um fator essencial para a produção, tenho apenas a lamentar que uma terapia seguidamente ineficaz, ou que faz efeito bastante limitado, continue sendo aplicada como se fosse um elixir da juventude. Observe-se que os efeitos colaterais dessa terapia são enormes. Ela derrubou o PIB de uma taxa anualizada de quase 3% em meados de 2013 para -1,6% no trimestre passado.
Aí pergunto: dado o esforço fiscal atual, seria realmente necessário impor um aperto monetário tão grande e ineficaz?
Aqui entra o fator confiança. Talvez os entes do mercado não acreditem que o governo fará efetivamente o ajuste fiscal prometido, assustados com o imbróglio do Congresso na votação das medidas.
Os incrédulos talvez tenham lido manuais de macroeconomia que costumam enumerar, entre as razões pelas quais o setor público gasta demais, a existência de governos formados pela coalização de muitos partidos políticos. Nesses governos, como no Brasil, os deficit seriam maiores do que naqueles formados por um ou dois partidos.
O exemplo clássico do primeiro grupo seria a Itália, cujo deficit é historicamente elevado e só foi reduzido recentemente, por imposição da União Europeia. Exemplo do segundo é a Alemanha, com superavit atual de 0,7% do PIB. Há exceções à regra: o Japão, governado por partido único, está com um déficit de 6,9% do PIB, maior que o brasileiro, de 5,3%.
Claro que há outros fatores determinantes do deficit público que independem de coalizões e partidos, decorrentes de má gestão e do descaso com a coisa pública, para não falar em corrupção.
É indispensável aprovar e apoiar a política de austeridade fiscal, focada em controle de gastos correntes, não em aumento de impostos ou cortes de investimentos.
A austeridade traz confiança e permite o relaxamento da política monetária, para que se tenha crédito amplo com preço civilizado. Sem isso, podemos todos tirar nossos cavalos da chuva, não haverá volta do crescimento da economia e do emprego.
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