Benjamin Steinbruch

Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, vice-presidente da Fiesp. É formado em administração pela FGV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Benjamin Steinbruch

Os americanos têm o hábito de avaliar o crescimento econômico projetando os resultados para 12 meses. Ou seja, interessam-se mais em saber o que acontecerá na economia no futuro próximo, caso o desempenho venha a ser mantido durante um ano, e menos em apurar o ocorrido no passado.

Se esse critério fosse aplicado por aqui, poderíamos dizer que a economia brasileira crescia em novembro a um ritmo anual próximo de 6%. Esse número é o resultado de uma projeção para 12 meses da expansão de 0,49% em novembro, segundo o IBC-Br, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central.

Nada garante que esse ritmo seja mantido. Nem há segurança de que o índice de novembro seja confirmado pelo número oficial do IBGE para o PIB. É certo, porém, que o Brasil, com grande e lamentável atraso, em razão de políticas exageradamente conservadoras, começa a acompanhar o surto de crescimento mundial.

Com a China acomodada em seu novo ritmo de expansão, próximo de 7% ao ano, e com os Estados Unidos sendo estimulados por políticas nacionalistas de Donald Trump, a economia mundial caminha para um período de quase euforia. Na semana passada, as Bolsas de todo o mundo "bombaram", puxadas pelas perspectivas de crescimento global, estimado em 3,7% para 2018.

Por aqui, perdemos um tempo enorme tentando equilibrar as finanças públicas, com pouco sucesso até agora. Desde 2015, as equipes econômicas do governo
só falam em ajuste fiscal, algo absolutamente necessário, mas que não deveria ter sido a única meta de trabalho.

Ao mesmo tempo em que se cuidava do ajuste fiscal, os programas de apoio ao desenvolvimento foram abandonados, os financiamentos a investimentos, desprezados, e os empreendedores nacionais, entregues à própria sorte.

Sintomático é, por exemplo, o desempenho do BNDES, cuja principal função é promover o desenvolvimento econômico e social do país. De um valor de R$ 190 bilhões em 2013, os desembolsos do banco caíram sucessivamente nos últimos quatro anos, até chegar a ridículos R$ 70 bilhões em 2017.

Para justificar o uso dessa palavra forte, "ridículos", observo que a queda em quatro anos foi de 63%. Nesse período, o banco sonegou à economia cerca de R$ 270 bilhões. Nenhum país pode manter seu ritmo com um desfalque desse tamanho, principalmente quando, ao mesmo tempo, impunha-se uma política de esfolamento monetário, com a taxa de juros em nível estratosférico, sem nenhuma conexão com o que ocorria no resto do mundo.

Agora começamos a parecer um pouco mais "normais". Nossa taxa de juros foi reduzida, mas ainda é elevada, e a economia ensaia a recuperação citada na abertura deste texto.

Temos ainda nosso problema fiscal. Existe a possibilidade de o deficit primário do ano passado ter ficado abaixo de R$ 120 bilhões, quase R$ 40 bilhões abaixo da meta de R$ 159 bilhões, mas o valor ainda é extremamente elevado.

E sabem por que essa redução do deficit está acontecendo? Principalmente porque a economia começou a reagir.

Claro que a austeridade e o controle de gastos correntes são importantíssimos e devem ser perseguidos implacavelmente pelo setor público, mas não há como fugir de uma conclusão óbvia: a forma mais eficiente de recuperar as finanças públicas é pela promoção do crescimento da economia.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.