Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.
Pedalada eleitoral
Marcelo Carnaval/Agência O Globo | ||
Pedro Paulo (à dir.) e Eduardo Paes acenam em convenção do PMDB |
BRASÍLIA - Surgiram os primeiros sinais de pedalada nas prestações de contas das eleições municipais. O Supremo vetou as doações de empresas para reduzir a influência do poder econômico nas campanhas. Foi uma boa ideia, mas a realidade sugere que os políticos já encontraram atalhos para driblar a proibição.
No Rio, o candidato da situação, Pedro Paulo (PMDB), passou o chapéu pelos patrocinadores de sempre: empreiteiras e concessionárias da prefeitura. Como o dinheiro das empresas não pode mais aparecer, ele aplicou uma finta e registrou tudo como doações de pessoas físicas.
Na papelada entregue ao TRE, figuram ao menos quatro empresários que têm negócios com a gestão de Eduardo Paes (PMDB): Rogério Zylbersztajn e Elie Horn, da construtora RJZ Cyrela; Roberto Kreimer, da Kreimer Engenharia; e Gabriela Marins, da BR Marinas. Juntos, eles já doaram R$ 350 mil ao afilhado do prefeito.
A soma parece uma gorjeta diante do que suas empresas lucraram nas obras olímpicas. Em troca do campo de golfe, Paes autorizou a RJZ a plantar 23 espigões numa área não edificável da Barra. A Kreimer ergueu o aquário da nova zona portuária. A BR Marinas administra a Marina da Glória, sede das competições de vela.
Quando o Supremo proibiu as doações de empresas, o ministro Luiz Fux disse que era preciso dar fim a "um quadro absolutamente caótico, em que o poder econômico captura de maneira ilícita o poder político".
Na versão de Pedro Paulo, não é disso que se trata. Ele descreveu seus financiadores como eleitores entusiasmados, e não empresários interessados. Disse que as doações foram feitas "por pessoas físicas que acreditam na minha candidatura".
Nesta sexta, apareceu outra estranheza nas contas do peemedebista. Um grupo de 57 servidores da prefeitura fez doações idênticas de R$ 5.000. O procurador Sidney Madruga achou coincidência demais e mandou abrir investigação por suspeita de caixa dois e lavagem de dinheiro.
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