Bernardo Mello Franco

Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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O jogo é para profissionais

Crédito: Caio Guatelli - 1.ago.2006 /Folhapress A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, anuncia o censo (((NÃO USAR NO SITE)))
Luciano Bivar concede entrevista à emissora de televisão durante a campanha eleitoral de 2006

Acabou-se o que era doce. Pelo menos para o Livres, um dos grupos que sonhavam despontar como novidade em 2018. Com discurso liberal, a turma apostou num atalho para encurtar o caminho das urnas. Em vez de criar um novo partido, negociou um casamento de conveniência com o nanico PSL. Na hora do "sim", apareceu outra noiva. Era o deputado Jair Bolsonaro.

"É com extremo pesar que comunicamos a saída do Livres do Partido Social Liberal", lacrimejou o grupo, em comunicado divulgado na última sexta. Não havia muita opção. Para quem tenta se apresentar como o novo, seria suicídio ficar ao lado de um refugo da ditadura militar.

O PSL preferiu trocar alianças com quem oferecia o maior dote. Em segundo lugar nas pesquisas, Bolsonaro prometeu levar um caminhão de votos. Isso pode garantir a sobrevivência da sigla, ameaçada de perder o dinheiro do fundo partidário.

Pior para o Livres, que havia apostado tudo na tática da barriga de aluguel. O grupo assumiu 12 diretórios do PSL e esperava ocupar a legenda por dentro até mudar seu nome e estatuto. Tudo certo, mas foi ingenuidade acreditar que o dono do PSL entregaria o partido de mão beijada.

O Livres confiou na palavra de Luciano Bivar, um dublê de empresário e cartola de futebol conhecido como o Eurico Miranda do Nordeste. Ex-deputado, ele integrou a bancada da bola, especializada em barrar investigações contra a cúpula da CBF.

Em 2006, Bivar disputou o Planalto com propostas amalucadas, como instalar um quartel em cada favela. Teve apenas 0,06% dos votos. Em 2014, ele apoiou Marina Silva. Quatro anos depois, diz ter "total comunhão de pensamentos" com Bolsonaro. Se o acordo desandar, pode reaparecer ao lado de Lula, Alckmin ou Eymael.

O tombo do Livres é um alerta para outros grupos que tentam entrar na política em parceria com velhos caciques. Num país em que os partidos funcionam como cartórios, o jogo eleitoral é coisa para profissionais.

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