Começou a carreira nos jornais "Diário da Noite" e "Diário de S.Paulo". Chegou à Folha em 1984, onde foi repórter, redator, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação, correspondente em Washington e ombudsman.
Muitas dúvidas no caso Enem
Dezenas de leitores escrevem sobre a fraude no exame do Enem. Ela afetou a vida de mais de 4 milhões de estudantes e suas famílias, universo de cerca de 15 milhões de pessoas que fazem parte do público-alvo prioritário do jornal.
Por isso, surpreende a falta de empenho editorial ao tratar do assunto, que ainda tem uma série de dúvidas fundamentais em aberto. É claro que se trata de tema complexo e de difícil apuração. Mas "se fosse fácil, qualquer um fazia". O que o leitor espera de seu veículo é que lhe traga as informações difíceis de apurar.
Entre os pontos que foram pouco ou mal cobertos pela Folha, alguns até ignorados por ela nesse episódio, destacam-se os que se seguem.
Em primeiro lugar, a motivação dos fraudadores, até agora não satisfatoriamente inteligível. Ou se tratavam de uns completos trapalhões ou alguma coisa ainda precisa ser revelada sobre as razões que os levaram a cometer ato tão desastrado. Acho que não é possível aceitar que o caso já esteja resolvido, como dizem as autoridades policiais.
Depois, há o problema da licitação. O MEC defende que em situações como esta, a licitação é não apenas dispensável, como é preferível não fazê-la. O jornal promove pouca discussão sobre esses argumentos. Quando se pode abrir mão de licitar um serviço a ser prestado ao Estado? O critério de mais baixo custo deve ser o elemento principal de decisão em todos os casos? Quais outros critérios podem ser tão ou mais importantes?
Não fica claro também por que a Cesgranrio, que agora vai fazer a nova prova este ano, aceitou a empreitada depois de ter se recusado a participar da primeira concorrência por achar o prazo curto demais, quando agora ele é ainda menor.
Pouco se falou sobre uma das mais ostensivas possíveis brechas de segurança do projeto original: o fato de que pacotes de provas iriam para casas de professores para distribuição.
Não se explorou bem uma das mais tradicionais pautas jornalísticas, que é o "como se faz em outros países?". Nos EUA, um exame similar ao Enem, o SAT, é aplicado há décadas num território nacional similar ao brasileiro e para uma população estudantil muitas vezes maior e parece que não encontra problemas de segurança. Por quê?
E o papel do Inep, como supervisor do processo, também tem sido muito pouco explorado. No que exatamente consiste essa supervisão? Que responsabilidades podem ser atribuídas a esse órgão?
A prova em si, já que foi revelada, poderia ter sido mais bem analisada sob o aspecto pedagógico: era boa, pode ser melhorada, o que revela do ponto de vista da competência educacional que o exame procurava verificar?
Um aspecto em que o jornal vai bem é a transparência com que lida desde o primeiro dia, com destaque na primeira página, com o fato de a gráfica onde ocorreu a fraude pertencer ao mesmo grupo empresarial que o controla. Tudo indica até aqui que nem ela nem nenhum funcionário seu são suspeitos de ilegalidades. É preciso manter o rigor jornalístico em qualquer situação.
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