É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.
DNA da corrupção
RIO DE JANEIRO - O partido da oposição precisava de 2 milhões para lançar um candidato que vencesse o governo, que se tornara maldito pela corrupção e incapacidade. O líder oposicionista escolheu, ouvidas suas bases, o governador do Piauí, homem honrado e competente. Enviou ao nobre Estado nordestino um representante para convidá-lo a disputar a Presidência.
O governador declarou que já fizera tudo pelo país, nunca lhe passara pela cabeça ser presidente, já se sacrificara pela nação, só lhe restava a aposentadoria. Fizera seu dever.
O representante da oposição argumentou contra, o país precisava de um salvador, um homem capaz e honesto. Mas o partido tinha um deficit de 3 milhões, precisava de dinheiro para lançar uma formidável campanha para eleger o seu candidato.
O governador coçou a cabeça, não tinha dinheiro. Foi então que o seu chefe de gabinete, o Fonsequinha, lembrou a verba da merenda escolar.
O governador recusou a idéia. Deixar criancinhas com fome seria um crime hediondo, um crime contra a humanidade. A sua consciência cristã jamais cometeria tal infâmia. O mesmo Fonsequinha sugeriu então um processo que vinha do tempo de Floriano, um banco que devia uma fortuna de impostos estaduais, bastava uma anistia fiscal e ainda sobraria dinheiro para Sua Excelência realizar o sonho de sua esposa: conhecer as ilhas gregas e o Taj Mahal, na Índia. Na volta, passar uns dias em Positano, na Costa Amalfitana.
O governador coçou novamente a cabeça: "Fonseca, você garante que os jornais não vão me esculhambar?'' Fonsequinha garantiu que tinha a imprensa, o rádio e a TV na mão, bastava nomear as amantes de alguns cobras da mídia para um Tribunal de Contas que desse sopa.
Tudo correu bem. O governador foi indicado para o Senado, e Fonsequinha, nomeado porta-voz da campanha: "O Piauí vale a pena".
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