Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
O perigo do frete grátis
Imagine a cena: você está fazendo compras na internet. Já selecionou alguns produtos no seu carrinho, quando repara em um aviso no topo da tela - "frete grátis para compras acima de R$ 99". O valor total das suas compras é de R$ 70, mas, se incluir um produto a mais, vai ganhar o tal do frete.
Você procura entre as ofertas e encontra mais um item que tem vontade de comprar. Ele custa R$ 40 e você decide levar, assim não tem mais despesas com o frete. Valeu a pena, certo?
Na maioria dos casos, a resposta é não. Para poder avaliar aqui, você precisaria calcular o valor do frete e comparar com o da sua compra. Se a sua despesa com a entrega do produto for de cerca de R$ 15, como ocorre em centenas de e-commerces, você se deu mal: em vez de fechar a compra por R$ 85, você acabou gastando R$ 110 com algo que não era fundamental.
Apesar de o raciocínio aqui ser simples, as lojas de venda on-line continuam a usar esse mecanismo por um simples motivo: ele funciona. Ao ver o aviso de "frete grátis", são grandes as chances de um volume enorme de consumidores resolver comprar mais simplesmente para ganhar o benefício –que muitas vezes não faz sentido, ao colocar todos os valores na ponta do lápis.
Então por que tanta gente "cai" no conto do frete grátis? Segundo o economista Dan Ariely, autor de "Previsivelmente Irracional", o custo zero é simplesmente "irresistível". "A maioria das transações tem um lado positivo e outro negativo, mas quando algo é grátis, nós esquecemos o lado negativo. O grátis nos dá uma descarga emocional tão grande que percebemos aquilo que está sendo oferecido como muito mais valioso do que realmente é", afirma o professor da Duke University.
A ideia aqui é que nós temos medo da perda Quando algo gratuito surge no caminho, não existe o risco de perder algo –no entanto, assim como "não existe almoço grátis", como diz o ditado econômico, sempre haverá alguma condição prévia para ter o "grátis" (gastar um valor mínimo, por exemplo).
Ou seja: ter uma oferta gratuita, como no caso do frete nas compras acima de um valor tal ou no famoso "pague dois e leve três", pode cegar para um fato simples: você pode não precisar da terceira unidade, ou então ser forçado a gastar mais quando não teria necessidade.
É como um cartão de crédito sem anuidade que esconde juros altos. Na próxima vez que encontrar uma oferta interessante, corra para ver onde está a pegadinha, afinal "quando a esmola é demais, o santo desconfia".
Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista e fundadora do site Finanças Femininas.
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