Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
Decisões profissionais: você confia mais no consenso ou na diversidade?
A ideia de encontrar ponderação no comportamento coletivo pode parecer contraintuitiva, especialmente se considerarmos alguns exemplos cotidianos ou fatos históricos. Uma briga de torcida começa a partir da ignorância coletiva, bem como a falta de bom senso de uma maioria pode ser um elemento perigoso e o ponto chave para o sucesso de um ditador.
No entanto, a individualidade das pessoas que compõem uma multidão pode torná-la sábia. Quando as opiniões de cada indivíduo dentro de um grupo não são influenciadas pelos pensamentos dos demais, a tendência é que os palpites dados por cada um para determinado problema tendam para uma solução próxima da mais acertada.
Isso é chamado de "sabedoria das multidões", discussão que começou a ser feita pelo jornalista James Surowiecki.
Para mostrar sua teoria, ele deu o exemplo de um experimento feito ainda em 1907 por Francis Galton. Em uma fazenda, ele ofereceu um prêmio para quem pudesse acertar o peso de uma vaca, dando palpites aleatórios. Ao final, Galton percebeu que a média dos palpites aleatórios estava mais próxima do peso real da vaca do que a opinião isolada dos participantes.
Na sequência dos estudos que avaliam a sabedoria das multidões, pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH) fizeram um teste similar com um grupo de participantes, oferecendo recompensas para palpites em perguntas aleatórias, como o número de assassinatos na Suíça.
Eles puderam comprovar que, quanto mais os participantes tinham informações sobre as opiniões dadas pelos outros, mais distantes as respostas ficavam do palpite correto. O assunto foi alvo de discussão no artigo "Sabedoria das multidões: mitos e realidades", publicado pela BBC.
A conclusão tirada no experimento foi de que opiniões compartilhadas tendem mais para o consenso do que para a precisão.
Aplique isso a sua vida profissional: em uma reunião de trabalho, você pode ser influenciado pelo parecer de outra pessoa a respeito de determinado problema e ver outros colegas tendendo a fazer a mesma coisa, ainda que inicialmente todos tenham pontos de vista diferentes, mas que não chegaram a ser expostos.
O resultado poderia ser melhor se a opinião de cada um fosse levada em consideração e a solução fosse encontrada com base na média das respostas de todos. Esse segundo cenário poderia resultar em uma solução mais precisa, tendo em vista as diversidades que foram consideradas. Em contrapartida, se a maioria converge para a influência de opinião única, maiores as chances de um erro coletivo.
Em um olhar mais amplo dentro de uma corporação, uma decisão coletiva enviesada por alguém tem mais chances de resultar em uma negociação ruim para a empresa ou até mesmo a uma crise financeira, do que se a solução fosse tirada da média entre pontos de vista diferentes.
Pessoas em cargos de liderança que relutam em considerar posicionamentos diversificados e tendem mais para a busca do consenso deveriam prestar mais atenção a isso. Afinal, a união faz a força, desde que a individualidade seja respeitada.
Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas
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