Formada em cinema pela Faap, tem macaquinhos no sótão, orelhas de abano, língua de trapo e ideias de girino (às vezes de jerico também).
Folia à beira-mar
A praia de Boa Viagem, em Recife, fervilha de gente em sábado de sol. Famílias inteiras ficam sentadas sob a sombra do guarda-sol, e os vendedores passam atarefados.
Olha só, o cara não vende só amendoim torradinho: tem cozido, com casca, sem casca, castanha de caju e também ovinhos de codorna. Tem até pirulitos que parecem guarda-chuva, queijo na brasa, picolé, caldinho de feijão e sururu.
Mas a farra mesmo acontece na beira d'água. Todo mundo junto e misturado, pegando jacaré e furando onda. Tem menino de nove anos, menino de cinco anos, outra menina ali tem 11 e um menorzinho de três brinca com a prima de dez.
Não sei se todos se conhecem (ou, melhor dizendo, se todos se conheciam antes de entrar na água), mas a camaradagem é explícita. Um ajuda o outro a levantar de uma onda mais forte, todos morrem de rir de uma piada sobre o biquíni alheio ou uma sunga branca. Olham com olhos gulosos o queijo coalho que passa. Mas rapidamente se esquecem de tudo por causa do mar.
O mar dá medo em sua imensidão, mas também seduz. É difícil resistir a ele -ainda mais com o calorão. Parece que Iemanjá, a rainha do mar, está chamando a todos para aproveitar seu reino. Para as crianças na beira da água, esse é o chamado da folia, do frescor, da brincadeira que não vê fronteiras de raça, classe ou credo.
É um pouco como a vida poderia ser.
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